Escolarização e pandemia de COVID-19: o papel das famílias

Abstract

O presente trabalho tem a finalidade de conhecer como se dá a atuação das famílias nos processos de escolarização de seus filhos em meio a pandemia de COVID-19 e suas estratégias de enfrentamento das possíveis dificuldades advindas desse percurso. No cenário pandêmico, as indicações de isolamento físico levaram ao fechamento das escolas. As famílias tiveram que dar conta de criar formas para que seus estudantes próximos pudessem manter algum contato com a escola, seja buscando as atividades impressas ou através dos meios digitais, além da disponibilidade de tempo para essa mediação. A pesquisa deu especial atenção a esses tópicos, além de ouvir a respeito das formas de exclusão escolar percebidas antes e depois da pandemia. Os processos de exclusão escolar não são fenômenos recentes; pelo contrário, podem ser percebidos na constituição da educação no Brasil ao longo de sua história. Dessa forma, trata-se de uma pesquisa qualitativa em que foram realizadas quatro entrevistas semi estruturadas com familiares de estudantes pertencentes às classes populares e matriculados em escolas públicas de ensino fundamental I da cidade de Cubatão-SP. Para a análise dos dados, foi utilizado o método da Análise de Conteúdo. Foi possível observar a visão das famílias a respeito do fracasso escolar e das dificuldades na escolarização de seus filhos. A falta de acesso aos meios tecnológicos e de políticas públicas em relação à escolarização na pandemia foi apontada como um dos grandes obstáculos nessa relação. Percebeu-se que a busca por estratégias de enfrentamento a essas dificuldades, muitas vezes, causa grande sofrimento. Entre estratégias, foram citadas as chamadas de vídeo com professores, a busca incessante pelo apoio dos familiares e até contratação de professores de reforço. Também foi possível perceber como as famílias dão grande importância à escolarização de seus filhos e se esforçam para atender as demandas da escola, mesmo que isso traga algum tipo de desgaste. A análise das entrevistas apontou um aspecto pouco pesquisado do adoecimento por COVID-19: as repercussões vivenciadas pela família, para além da pessoa doente. Ademais, puderam ser observados esses efeitos também na relação com a escolarização. O trabalho informal, a dupla jornada e a luta por direitos trabalhistas surgiram mostrando a relação das famílias com o trabalho como fator crucial na pesquisa. Por fim, foi percebido que a medicalização e patologização da vida se encontram presentes no cotidiano dessas famílias de forma incisiva.