Aspectos sociais, culturais e uso dos serviços de saúde mental em Moçambique

Abstract

Introduction: In low-income countries such as Mozambique, inequalities in access to health services, difficulties in integrating Mental Health (MH) into health care, inefficient use and scarcity of resources are barriers to mental health care. The dissemination of socio-culturally acceptable and evidence-based mental health services requires sustainable low-cost strategies. Objectives: To describe different strategies how the Mozambican National Mental Health Program (PNSM) is organized to respond to the needs of the population. Methods: The first study retrospectively analyzed homeless people assisted by MH. The second analyzed cross-sectionally, 154 students between 16 and 18 years of age with episodes of emotional contagion (ECB). The third compared the sociodemographic characteristics and diagnoses of the MINI International Neuropsychiatric Interview 4.0.0 in six Health Units (HU) of the National Health Service in Maputo and Nampula cities (2 of the primary health care with Psychiatric Technicians (PrCMH +), 3 of the primary health care without Psychiatric Technicians (PrCMH-) and 1 tertiary (TerC)). Results: 71 homeless people participated (93.0% men; 80.3% unemployed). The most common diagnoses were psychosis (46; 64.8%), substance use (21; 29.6%) and intellectual disability (4; 5.6%). Reintegration was achieved in 53.5% (38 patients). Substance use patients had better reintegration and those with intellectual disabilities were the least reintegrated (X2=6.1; p=0.047). 19 Among participants of the second study, 57 presented ECB and 97 did not. In the multivariate analysis, probability of ECB was higher in those with a previous history of ECB (OR =8.28 [CI 95%: 2.51; 27.30]; p˂0.001) and an extroverted personality profile (OR=1, 15 [95% CI: 1.01; 1.30]; p=0.038). A trend in the same direction was observed in those with high levels of anxiety (OR =1.04 [CI 95%: 0.99; 1.09]; p =0.095). Having a romantic relationship was associated with a lower probability of ECB (OR =0.04 [CI 95%: 0.01; 0.19]; p=0.001). Of the 612 participants in the third study, 52.6% (n=322) had at least one mental disorder: 37.1% Common Mental Disorders (CMD), 28.9% Severe Mental Disorders (SMD), 13.2% Substances Use Disorders (SUD) and 10.5% were at risk of suicide. The presence of any mental disorder was higher in TerC (62.5%) and lower in PrCMH- (48.4%). Adjusting for sociodemographic covariates, PrCMH+ participants were more likely to have SMD (OR=1.85, 95% CI: 1.10-3.11) and SUD (OR=2.79, 95% CI: 1.31 - 5.94) than those from PrCMH-; those from TerC were more likely to have CMD (OR=1.70, 95% CI: 1.01-2.87) and SUD (OR=2.57, 95% CI: 1.14-5.79) do that in PrCMH-. Suicide risk was similar in the different HU. Conclusions: The PNSM demonstrates the ability to make interventions which were socioculturally relevant, with family reintegration achieved for more than half of the participants and in addressing emotional contagion, situations that highlight how developmental challenges can be experienced as a group phenomenon in a given context. Regarding the profile of mental illnesses, the study determined that there is a remarkably high frequency of mental disorders in different types of HU.

Introdução: Em países de baixa renda como Moçambique, desigualdades no acesso aos serviços de saúde, dificuldades na integração da Saúde Mental (SM) nos cuidados de saúde, ineficiente utilização e escassez de recursos foram identificadas como obstáculos. A disseminação destes Serviços com evidência científica e socioculturalmente aceites, requer intervenções sustentáveis de baixo custo. Objetivos: Descrever como o Programa Nacional de Saúde Mental (PNSM) organizou-se para responder às necessidades da população. Métodos: O primeiro estudo, analisou retrospetivamente moradores de rua assistidos pela SM. O segundo, analisou de forma transversal, 154 alunas entre os 16 e os 18 anos de idade com episódios de contágio emocional (ECB). Responderam a um questionário sociodemográfico, escala de Ansiedade de Beck e questionário de personalidade de Eysenck revisto. O terceiro comparou as características sociodemográficas e os diagnósticos do MINI International Neuropsychiatric Interview 4.0.0 em seis Unidades Sanitárias (US) do Serviço Nacional de Saúde nas Cidades de Maputo e Nampula (2 dos cuidados de saúde primários com Técnicos de Psiquiatria (PrCMH+), 3 dos cuidados de saúde primários sem Técnicos de Psiquiatria (PrCMH-) e 1 terciária (TerC)). Resultados: Participaram 71 moradores de rua (93,0% homens; 80,3% desempregados). Os diagnósticos mais comuns foram as psicoses (46; 64,8%), uso de substâncias (21; 29,6%) e deficiência intelectual (4; 5,6%). A reintegração foi alcançada 17 em 53,5% (38 pacientes). Pacientes por uso de substâncias tiveram melhor reinserção e aqueles com deficiência intelectual foram os menos reintegrados (X 2= 6,1; p=0,047). Nas participantes do segundo estudo, 57 apresentaram ECB e 97 não. Na análise multivariável, a probabilidade de ECB foi maior naquelas com história prévia de ECB (OR=8,28 [IC 95%: 2,51; 27,30]; p˂0,001) e perfil de personalidade extrovertida (OR=1,15 [IC 95%: 1,01; 1,30]; p=0,038). Uma tendência na mesma direção foi observada naquelas com níveis elevados de ansiedade (OR=1,04 [IC 95%: 0,99; 1,09]; p=0,095). Ter relacionamento amoroso foi relacionado à menor probabilidade de ter ECB (OR=0,04 [IC 95%: 0,01; 0,19]; p=0,001). Dos 612 participantes do terceiro estudo, 52,6% (n=322) tinham pelo menos um transtorno mental: 37,1% Transtornos Mentais Comuns (CMD), 28,9% Transtornos Mentais Severos (SMD), 13,2% Uso de Substâncias (SUD) e 10,5% tinham risco de suicídio. A presença de qualquer transtorno mental foi maior na TerC (62,5%) e menor nas PrCMH- (48,4%). Ajustando para covariáveis sociodemográficas, os participantes das PrCMH+ eram mais propensos a ter SMD (OR=1,85, IC 95%: 1,10-3,11) e SUD (OR=2,79, IC 95%: 1,31-5,94) do que os das PrCMH-; os da TerC eram mais propensos a ter CMD (OR=1,70, IC de 95%: 1,01-2,87) e SUD (OR=2,57, IC de 95%: 1,14-5,79) do que em PrCMH-. O risco de suicídio foi similar entre as diferentes US. Conclusões: O PNSM demonstrou capacidade de fazer intervenções com carácter sociocultural com a reintegração familiar alcançada em mais da metade dos participantes e no Contágio Emocional, que evidenciou como os desafios do desenvolvimento humano podem ser vivenciados como fenômeno de grupo em determinado contexto. Relativamente ao perfil das doenças mentais, o estudo sugere que existe uma frequência notavelmente elevada de transtornos mentais nos diferentes tipos de US.