Como o apego do tutor ao seu cão está associado ao grau de estresse, ansiedade e depressão do tutor

Abstract

A ciência vem mostrando que o convívio com um cão, que pode muitas vezes ocupar um lugar de membro da família, pode trazer muitos benefícios ao ser humano: físicos, fisiológicos, psicológicos e emocionais. Trata-se de uma relação duradoura, semelhante a uma relação parental, e é estudada nesta pesquisa a partir da abordagem da teoria do apego, originalmente dedicada a explicar a relação de apego entre a criança e seu cuidador. Entre os benefícios que a relação com um cão pode trazer para o ser humano, muita ênfase tem se dado aos benefícios psicológicos, especialmente como um recurso para enfrentamento de condições como depressão, ansiedade e estresse. Estes são problemas muito recorrentes em nosso mundo moderno, sendo o Brasil o país latino com a maior taxa de ansiedade e depressão. O estresse mostra-se um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas depressivos e de ansiedade e também uma consequência, sendo um sintoma de mão dupla. Esta pesquisa teve como objetivo investigar a associação entre o grau de apego do tutor ao cão e o grau de ansiedade, depressão e estresse do tutor. Buscou-se também investigar outros fatores que poderiam estar associados ao apego, como dados demográficos do tutor (e.g. idade, sexo, estado civil, escolaridade), do cão (e.g. idade, porte, raça, sexo) e da relação tutor-cão (e.g. local em que o cão dorme, quantas horas por dia passam juntos, quantas horas por semana o cão passeia). O grau de apego foi medido por meio de uma versão traduzida para o Português do Lexington Attachment to Pet Scale (LAPS) e o grau de estresse, ansiedade e depressão foram medidos por meio de uma versão reduzida traduzida e validada para o Português do Brasil da Depression, Anxiety and Estress Scale (DASS-21). Encontrou-se, de maneira geral, que o grau de apego do tutor ao seu cão está diretamente associado ao grau de estresse, ansiedade e depressão do tutor. O grau de apego mostrou-se mais fortemente associado à idade do tutor, ao sexo do cão e ao grau de ansiedade. Tutores de cães fêmeas mostraram-se mais apegados do que de cães machos, além disso o grau de apego diminui à medida que aumenta a idade do tutor, e o grau de apego foi maior para tutores com ansiedade moderada a severa quando comparado com tutores com ansiedade de grau normal a leve. O gênero do tutor, grau de depressão e de estresse também apresentaram tendência de associação com o grau de apego, porém mais fraca do que os fatores anteriormente mencionados. Os resultados desta pesquisa sugerem que a relação de apego com um cão pode ser um recurso no enfrentamento da ansiedade (e, consequentemente, da depressão e estresse, em menor medida), no entanto, outros fatores também podem também interferir no apego entre tutor e cão e devem ser melhores investigadas.

Science has shown that living with a dog, which can often be considered as a member of the family, can bring many benefits to humans: physical, physiological, psychological and emotional. It is a lasting relationship, similar to a parental relationship, and is studied in this research from the attachment theory approach, originally dedicated to explaining the attachment relationship between the child and the caregiver. Among the benefits that a relationship with a dog can bring to humans, much emphasis has been given to psychological benefits, especially as a resource for coping with conditions such as depression, anxiety and stress. These are very recurrent problems in our modern world, Brazil being the Latin country with the highest rate of anxiety and depression. Stress is a risk factor for the development of depression and anxiety symptoms and also a consequence, being a two-way symptom. This research aimed to investigate the association between the degree of attachment of the tutor to the dog and the degree of anxiety, depression and stress of the tutor. We also sought to investigate other factors that could be associated with attachment, such as owner demographics (e.g. age, sex, marital status, education), the dog (e.g. age, size, breed, sex) and the guardian-dog relationship (e.g. where the dog sleeps, how many hours a day they spend together, how many hours a week the dog walks). The degree of attachment was measured using a version translated to Portuguese of the Lexington Attachment to Pet Scale (LAPS) and the degree of stress, anxiety and depression were measured using a reduced version translated and validated into Brazilian Portuguese of Depression, Anxiety and Stress Scale (DASS-21). It was found, in general, that the degree of attachment of the owner to his dog is directly associated with the degree of stress, anxiety and depression of the owner. The degree of attachment was more strongly associated with the age of the owner, the sex of the dog and the degree of anxiety. Female dog owners were more attached than male dogs, moreover the degree of attachment decreases as the age of the owner increases, and the degree of attachment was higher for owners with moderate to severe anxiety when compared to guardians with normal to mild degree of anxiety. The owner's gender, degree of depression and stress also showed a tendency to be associated with the degree of attachment, although weaker than the aforementioned factors. The results of this research suggest that the attachment relationship with a dog can be a resource in coping with anxiety (and, consequently, depression and stress, to a lesser extent), however, other factors can also interfere in the attachment between owner and dog and should be further investigated.