Tese
A argumentação e o entendimento de estudantes surdos e ouvintes sobre cinemática
Fecha
2018-12-03Autor
Porto, Klayton Santana
Institución
Resumen
Neste trabalho buscamos analisar a qualidade da argumentação produzida por
estudantes surdos e ouvintes e o nível de entendimento explicitado por eles na
resolução de atividades de natureza escrita, discursiva e experimental que demandam
análise, interpretação e discussão de situações-problema da Cinemática. Para a
intervenção e coleta dos dados, elaboramos uma sequencia didática investigativa
sobre o conteúdo Cinemática, que foi aplicada em três turmas de Física do primeiro
ano do Ensino Médio de uma escola da Rede Estadual de Educação do Estado da
Bahia. O trabalho apresenta uma metodologia qualitativa-quantitativa. Para
identificarmos os níveis de complexidade dos diferentes tipos de entendimento,
explicitados em cada um dos contextos, adotamos a perspectiva teórica de níveis
hierárquicos estabelecidos por meio da Teoria de Habilidades Dinâmicas. Dessa
forma, criamos um modelo categórico para a análise de cada uma das questões das
três atividades escritas, a fim de classificarmos as respostas dos estudantes, a partir
do nível de complexidade estabelecido do ponto de vista formal. Para avaliarmos a
qualidade da argumentação, produzida em LIBRAS e em lingua portuguesa, pelos
surdos e ouvintes, respectivamente, desenvolvemos uma Taxonomia, cujas
categorias foram pautadas no Layout de Argumentação de Toulmin e numa adaptação
da ferramenta elaborada por Penha e Carvalho para a análise da qualidade dos
argumentos e da qualidade das oposições entre eles. Por meio desta Taxonomia,
avaliamos a qualidade da argumentação produzida pelos estudantes surdos e
ouvintes na resolução das atividades discursiva e experimental. De uma maneira
geral, constatamos que nossa sequência didática contribuiu para que os estudantes
aprendessem o conteúdo Cinemática, uma vez que verificamos que tanto os surdos
como os ouvintes apresentaram um aumento dos níveis de entendimento sobre o
conteúdo ao longo da intervenção. Embora, ressaltamos que o processo foi
diferenciado entre os estudantes surdos e ouvintes, visto que percebemos que os
ouvintes apresentaram níveis de entendimento superiores aos explicitados pelos
surdos, nas três atividades escritas. Em relação à qualidade da argumentação,
verificamos que tanto os surdos como os ouvintes conseguiram argumentar nas duas
atividades. Entretanto, ressaltamos que tanto surdos como ouvintes produziram uma
argumentação de maior qualidade na atividade experimental e, consequentemente,
uma argumentação de menor qualidade na realização da atividade discursiva. Além
disso, percebemos que os surdos, por serem eminentemente visuais, lançaram mão
de estratégias pautadas na linguagem não verbal, como a cinésica e a proxêmica, no
momento em que argumentavam. No entanto, mesmo que tenhamos levado em
consideração tais aspectos linguísticos para a avaliação da argumentação produzida
em LIBRAS pelos surdos, percebemos que a qualidade da argumentação produzida
pelos surdos apresentou níveis inferiores à produzida pelos ouvintes. Por fim, por meio
da análise de correlação linear, verificamos que o nível de entendimento apresentado
pelos estudantes nas atividades escritas contribuiu diretamente na qualidade da
argumentação e, também, que a argumentação contribuiu para o entendimento da
Cinemática.