Dissertação
Violência policial, masculinidade negra e empoderamento através da arte: dois estudos de caso com jovens negros em Salvador
Fecha
2018-07-11Autor
Moore, Hannah Keturah
Moore, Hannah Keturah
Institución
Resumen
A Violência Policial é um fenômeno mundial que se acentua em determinados segmentos
urbanos de países democráticos como o Brasil. Ainda que entendendo a polícia como entidade
legítima de exercício da violência por parte do Estado, o fenômeno da violência policial tem demonstrado estar enraizado em suas práticas históricas ao dirigir-se sistematicamente contra indivíduos de etnias africanas e seus descendentes. Esta pesquisa, vinculada ao mestrado em saúde coletiva, objetivou analisar os significados e experiências envolvidos na relação entre
violência policial e masculinidade negra em Salvador. De forma complementar, procurou-se
analisar o potencial da arte como instrumento de resiliência para a juventude negra e discutir os limites e as contradições dos programas e políticas governamentais voltados ao combate à violência policial. Trata-se de analisar a relação entre a violência do Estado e os jovens negros, levando em conta a incidência do racismo e a construção social da masculinidade negra, procurando identificar seu papel nessa relação, tendo em vista as restrições impostas à identidade infligida aos homens negros. Além disso, as formas pelas quais a arte prevê a reescrita de processos de identidade, de resiliência e empoderamento. O perfil racial e a violência racial são funções do racismo, que se manifestam de forma diferente em diferentes
contextos. A dificuldade em abordar o racismo e a violência racial no Brasil deve ser
entendida no contexto da ideologia do mito da democracia racial em que o racismo foi
declarado não existir. Em um momento em que o Brasil está tendo debates em torno da ação
afirmativa e do racismo, revela-se especialmente relevante desenvolver estudos sobre a violência policial e a relação complexa entre ela e jovens negros. Destacam-se como conceitos-chave da pesquisa: interseccionalidade, masculinidade, racismo e violência do Estado. Adotou-se um método qualitativo de pesquisa, mais especificamente o estudo de casos. Foram conduzidos dois estudos de caso, focalizando a experiência de dois jovens negros vinculados a coletivos juvenis de Salvador que desenvolvem práticas culturais. Os dados foram produzidos por meio de entrevistas narrativas, entrevistas semiestruturadas, análise de produtos artísticos desenvolvidos pelos dois jovens (poesias, letras de música) e observação participante. Além dos estudos de caso, foram realizadas entrevistas complementares com informantes-chave, sendo uma coordenadora do Grupo de Controle Externo para a atividade policial e outra coordenadora de comunicação do Fórum Comunitário contra a Violência em Salvador. Dentre os resultados, destacam-se os seguintes aspectos: que a própria construção da masculinidade negra, trabalha para confinar homens negros as ideias limitadas de identidade que se auto prejudicam e sustentam ideias coletivas
que justificam o assassinato de homens negros pelo Estado. Uma compreensão crítica de
todas as maneiras que esta construção social é perpetuada deve ser tido. Mais importante
ainda, devemos ouvir as vozes e histórias de homens negros para entender essa complexa
relação.