Dissertação
Estudo eco-epidemiológico sobre a ocorrência de arboviroses na cidade de Quelimane - Moçambique.
Fecha
2018-07-09Autor
Mugabe, Vânio André
Mugabe, Vânio André
Institución
Resumen
Em Moçambique, existem poucas informações sobre a ocorrência de infecções por arbovírus. Este estudo teve como objetivos investigar a frequência e fatores associados ao diagnóstico de dengue, chikungunya e zika em pacientes atendidos por doenças febris agudas, nos centros de saúde, na cidade de Quelimane – Moçambique. Adicionalmente, inquéritos ambientais e entomológicos foram realizados nos domicílios e peri-domicílios dos participantes do estudo para estimar a densidade vetorial e identificar os principais locais de reprodução de mosquitos do gênero Aedes. O estudo teve um desenho transversal, baseado em dados da vigilância sentinela para doenças febris agudas, realizada prospectivamente na cidade de Quelimane pelo Instituto Nacional de Saúde de Moçambique, entre fevereiro e junho de 2016. Foram incluídos no estudo 163 pacientes, cujas amostras de soro foram testadas para dengue, chikungunya e zika. Foram usados testes de imunoensaio enzimático (ELISA) IgM e IgG para detecção de infecções pelos vírus da dengue (DENV) e chikungunya (CHIKV); testes imunocromatográficos rápidos (RDT, rapid diagnostic test) para DENV (NS1, IgM e IgG) e CHIKV (IgM) e reação em cadeia da polimerase da transcriptase reversa, em tempo real (qRT-PCR) Trioplex para DENV, CHIKV e ZIKV. O teste de neutralização por redução de placa (PRNT50) foi empregado em um subgrupo de amostras que foram positivas para CHIKV por ELISA IgG. Os participantes também foram testados para malária por um teste imunocromatográfico que detecta IgM. Os participantes incluídos no estudo foram caracterizados por meio de medidas de frequência relativa, de tendência central e de dispersão. Análises bivariada e multivariada de regressão log binomial foram usadas para verificar a existência de associação entre fatores sociodemográficos e a prevalência de anticorpos IgG anti-chikungunya. Razões de prevalência (RP) e intervalo de confiança de 95% foram estimados. Durante os inquéritos ambientais e entomológicas foram realizados busca por criadouros de Aedes spp., coleta de larvas, instalação da ovitrampas e obtenção das coordenadas geográficas dos domicílios visitados. Calculou-se o índice de positividade da ovitrampa (IPO) e o índice de densidade de ovos (IDO) e utilizou-se o Qgis 2.14 para demarcação dos locais de residência dos pacientes em um mapa da Cidade. Dos 163 pacientes estudados, 35 (21,5%) tiveram o diagnóstico de malária. Não houve identificação de participantes com infecções por DENV, CHIKV e ZIKV através do qRT-PCR ou por soroconversão. Entretanto, dos 127 pacientes testados pelo RDT NS1 para dengue, 4 (3,2%) foram positivos e dos 104 pacientes testados pelo ELISA IgM para dengue, 1 (0,9%) foi positivo. Em relação à chikungunya, dos 163 pacientes testados, 17 (10,4%) foram positivos no ELISA IgM e 103 (63,2%) foram positivos no ELISA IgG. Maior idade e menor escolaridade associaram-se independentemente com a presença de IgG anti-CHIKV. A prevalência de anticorpos IgG anti-CHIKV foi 1,7 (IC95%: 1,3-2,1) vezes maior entre os pacientes com baixa escolaridade quando comparada àquela dos pacientes que no mínimo ingressaram no ensino secundário, mesmo após ajuste para faixa etária. As inspeções ambientais e entomológicas foram realizadas nos domicílios/peri-domicílios de 79 pacientes e em 16 (20,3%) das casas foram identificados imaturos de mosquitos da espécie Aedes aegypti. Os criadouros onde havia imaturos foram: poços, pneus, cascas de coco, baldes, latas, tubo de esgoto e área com acúmulo de lixo. Em relação aos índices entomológicos, o Índice de Positividade da Ovitrampa (IPO) foi de 25,0% (16/64) e o Índice de Densidade do Ovo (IDO) foi de 90,8 (1453/16) ovos por palheta. A disposição espacial dos endereços de residência dos pacientes com evidência laboratorial de infecção pregressa por CHIKV sugeriu que as infecções devem ocorrer em todas as áreas da Cidade. Concluiu-se que a dengue ocorre com baixa frequência na cidade de Quelimane enquanto que chikungunya deve apresentar transmissão endêmica. A identificação de grande densidade do mosquito vetor reforça que a cidade de Quelimene apresenta condições de manter uma transmissão autóctone de arbovírus.