Tese
GEO-FOTO-GRAFIA DAS PAISAGENS: NARRATIVAS ESPACIAIS NAS IMAGENS DE SEBASTIÃO SALGADO
Fecha
2017-05-25Autor
Pidner, Flora Sousa
Institución
Resumen
As fotografias são um caminho para interpretar a paisagem, já que a sociedade, também por
meio das imagens, representa-se e imagina-se. A fotografia é concebida, nesta pesquisa, como
representação do espaço, ou seja, como um caminho cartográfico, sendo, simultaneamente,
arte e documento. As composições de paisagens fotográficas de Sebastião Salgado foram
escolhidas para nortear o diálogo entre Geografia e Arte e, para tanto, convocaram-se a
dialética e a fenomenologia como métodos, combinando-as, quando possível, e separando-as,
quando necessário. Os sujeitos envolvidos nos eventos geográficos que resultam em
fotografias e em suas interpretações — o fotógrafo, os fotografados e os espectadores-leitores
— elaboram diferentes perspectivas espaciais que se encontram, configurando
intersubjetividades. O acesso às abordagens acerca desses diversos sujeitos realizou-se a partir
de três frentes: pesquisa e exploração do vasto material publicado a respeito de Salgado, como
entrevistas, artigos e filmes, no qual se revelam suas intencionalidades técnicas e as
luminosidades estéticas que ele propõe como fotógrafo; entrevistas com integrantes do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Brasil (MST), para compreender suas
perspectivas enquanto fotografados por Salgado e a construção coletiva do projeto Terra; e
debates com espectadores-leitores por meio de grupos focais, em que sujeitos entrevistados
exploraram as narrativas geofotográficas selecionadas para esta pesquisa, explicitando
sentimentos e percepções geoestéticas e propondo horizontes interpretativos para as imagens.
A categoria paisagem foi o fio condutor para reflexões geográficas referentes às imagens
produzidas por Salgado como representações do espaço. A expedição geográfica foi um
instrumento utilizado por ele para a elaboração de narrativas espaciais por meio de fotografias
e, por isso, Salgado pode ser considerado um fotógrafo-viajante que amplia horizontes
interpretativos sobre o mundo e propõe representações em escala global. O fotógrafo volta seu
olhar para os homens lentos e suas experiências espaciais vivenciadas em diferentes lugares
do mundo e em diferentes situações. Três de seus projetos geofotográficos, por sua grande
envergadura espacial e temporal, foram escolhidos para compor a pesquisa: em
Trabalhadores, há uma cartografia global da superexploração, em que os limites do uso do
corpo em situação de trabalho são revelados; Êxodos expressa fluxos espaciais de homens
lentos, impulsionados pelos movimentos do capital, pelas repressões e pelas guerras que esse
modo de produção provoca; em Gênesis, há cartografias globais de paisagens que, por algum
motivo geográfico-histórico, ainda estão pouco transformadas pela modernização
hegemônica. As fotografias dos projetos de Salgado são organizadas em narrativas espaciais
multiescalares, em que o fotógrafo intercala escalas de detalhe, próximas aos corpos dos
sujeitos fotografados, entre escalas mais contextuais, mais amplas, multiplicando pontos de
vista sobre paisagens. Nesse emaranhado de debates e de reflexões, pretendeu-se contribuir
para o diálogo entre Geografia e Arte, em busca de sobreposições de expressões, de saberes e
de conhecimentos, por meio de possibilidades teórico-empíricas impulsionadas pelas imagens
de Salgado. ABSTRACT
Photographs are a way to interpret the landscape, since society, by means of images,
represents and imagines itself. Photography is conceived, in this research, as a representation
of space, that is, as a cartographic way, being simultaneously art and document. Sebastião
Salgado’s photographic landscapes were chosen to guide the dialogue between Geography
and Art and, for this purpose, dialectics and phenomenology were summoned as methods,
being combined whenever possible and separated when necessary. The subjects involved in
the geographic events that result in photographs and in their interpretations — the
photographer, the ones photographed and the reader-spectators — elaborate different spatial
perspectives that meet themselves, configuring intersubjectivities. The access to the
approaches on these several subjects was accomplished from three fronts: research and
exploration of the vast material published concerning Salgado, such as interviews, articles and
movies, in which his technical intentionalities and the aesthetic luminosities that he proposes
as a photographer are revealed; interviews with members of the Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (The Landless Rural Workers Movement) (MST) to understand their
perspectives when photographed by Salgado and the collective construction of the Terra
(Earth) project; and debates with reader-spectators by means of focal groups in which the
interviewed subjects explored the geophotographic narratives selected for this research,
expliciting feelings and geoaesthetical perceptions and proposing interpretative horizons for
the images. The category landscape was the guideline for geographic reflections concerning
the images produced by Salgado as representations of space. The geographic expedition was a
tool taken by him to elaborate spatial narratives by means of photographs and, because of this,
Salgado may be considered as a travelling photographer who expands interpretative horizons
over the world and proposes representations in a global scale. The photographer turns his look
at slow men and their spatial experiences lived in different places of the world and in different
situations. Three of his geophotographic projects, due to their great spatial and temporal
amplitude, were chosen to compose the research: in Trabalhadores (Workers), there is a
global cartography of superexploration, in which the limits of the use of the body at labour
situations are revealed; Êxodos (Exodus) expresses spatial fluxes of slow men, propelled by
the movements of capital, by repression and wars that this mode of prodution provokes; in
Gênesis (Genesis), there are global cartographies of landscapes which, by some geographichistorical
reason, are still little transformed by hegemonic modernity. The photographs of
Salgado’s projects are organized in multiscale spatial narratives, in which the photographer
inserts scales of details, close to the bodies of the photographed subjects, in more contextual
and larger scales, multiplying points of view over landscapes. In this tangle of debates and
reflections, the intention was to contribute towards a dialogue between Geography and Art, in
search of superpositions of expressions, skills and knowledge, by means of theoreticalempirical
possibilities propelled by Salgado’s images.