masterThesis
A festa que jamais terminou: a memória e o silêncio na reconstrução da identidade paulistana durante os festejos comemorativos do IV centenário do aniversário da cidade de São Paulo (1947-1955)
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CAVALHEIRO, Douglas André Gonçalves. A festa que jamais terminou: a memória e o silêncio na reconstrução da identidade paulistana durante os festejos comemorativos do IV centenário do aniversário da cidade de São Paulo (1947-1955). Orientador: Renato Amado Peixoto. 2021. 273f. Dissertação (Mestrado em História) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.
Autor
Cavalheiro, Douglas André Gonçalves
Resumen
The organization of commemorative festivities demonstrates how social groups are creative
agents of historical narratives – preserving memory, silencing, or forgetting – that reframe
their cultural identity. Permeated by feelings and emotions, these agents transform the
representations of their places into new forms of spatial experiences, as occurred in São Paulo
between the years 1947 to 1955. Resentful of the political exclusion caused by the 1930
Revolution - the elite supported the Center of Industries of the State of São Paulo (CIESP)
and the political group of the Social Progressive Party (PSP) – they idealized the
commemorations of the IV Centenary of the São Paulo capital in the light of a new identity
to represent the entire region. For almost half a decade, the leadership position, which
promoted the celebrations, was fought over between the São Paulo elite and other groups –
dissident politicians and university intellectuals – who saw in the event a form of capital
victories – whether political or economic – to your social group. Through the speeches of
these different groups, a historiographic scenario is formed. The performance of the
Bandeirantes – a symbol of São Paulo's identity – will be the subject of fierce debates
between different representatives of the groups that disputed the authorship of the narratives
about the commemorative festivities. From the tropological methodology, suggested in
Hayden White's Metahistory (1992), it is observed how the interpretative rivalries in the
historiographical discourse are consequently polarized in different social spaces – due to the
divergent political and ideological visions – in which historians find themselves inserted in
the society. Therefore, when evaluating the cartographic concepts of Ilha-Brasil – debated
throughout the Querela Bandeirante between the Portuguese historian Jaime Cortesão and
the São Paulo historian Sérgio Buarque de Holanda - and the Aspiral sculpture – built in
Ibirapuera Park by Oscar Niemeyer – we perceive a redefinition of São Paulo's identity, a
regional apotheosis, during the commemorative festivities of the IV Centenary of the capital.
The commemorations were intended to distance and forget the historiographical narratives
of São Paulo in the 1920s, silencing São Paulo’s regional identity that once only sought its
declaration through participation in the formation of the Brazilian territory. A organização de festejos comemorativos expõe e revela os grupos sociais como agentes
criadores da narrativa histórica – preservando, esquecendo ou silenciando a memória – na
medida em que por meio dessa ação organizadora ressignificam sua identidade cultural.
Permeados por sentimentos e emoções, esses agentes transformam as representações de seus
espaços em novas formas de vivências espaciais, tal como ocorreu em São Paulo entre os
anos de 1947 e 1955. Ressentidos pela exclusão política causada desde a Revolução de 1930,
a elite econômica ligada ao Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e o grupo
político do Partido Social Progressista (PSP) idealizaram as comemorações do IV Centenário
da capital paulista à luz de uma ressignificação identitária para representar todo o espaço da
região. Ao longo de quase meia década, o cargo de chefia – que promovia as comemorações
– foi digladiado entre a elite paulista e outros grupos (políticos dissidentes e intelectuais
universitários) que perscrutavam no evento uma forma de ganho de capital – seja político ou
econômico – para sua corporação. Através dos discursos desses grupos forma-se um cenário
historiográfico, no qual, em especial a atuação dos bandeirantes – símbolo identitário paulista
– será alvo de profundos debates entre distintos representantes das facções que disputavam a
autoria das narrativas dos festejos comemorativos. A partir da metodologia tropológica,
sugerida na Metahistória de Hayden White (1992), observa-se como as rivalidades
interpretativas no discurso historiográfico são consequentemente polarizadas em distintos
espaços sociais – devido às divergentes visões políticas e ideológicas – em que se inserem os
historiadores. Portanto, avaliados os conceitos cartográficos da Ilha-Brasil – debatidos ao
longo da Querela Bandeirante entre o historiador lusitano Jaime Cortesão e o historiador
paulista Sérgio Buarque de Holanda; e a escultura da Aspiral – concebida por Oscar
Niemeyer construída no Parque do Ibirapuera, percebe-se uma ressignificação da identidade
paulistana, uma apoteose regional, durante os festejos comemorativos do IV Centenário da
capital. As comemorações tiveram a finalidade de se distanciar e lançar ao esquecimento as
narrativas historiográficas paulistas da década de 1920, silenciando a identidade regional
paulistana que outrora apenas buscava a sua legitimidade através da participação na formação
do território brasileiro.