Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Florianópolis, 2019.O Brasil possui apenas 1.305 hectares cultivados com pomares de pereira (Pyrus communis L.) e produz não mais que 14% da pera consumida no país. A produtividade média da cultura por hectare é de 16,9 mega grama (Mg), uma taxa menor que a observada em tradicionais produtores latino americanos como o Chile e a Argentina (FAO, 2019). Assim, o Brasil tem importado 146,778 mil Mg somente no último ano para suprir a demanda interna da fruta (FAO, 2019). A produtividade brasileira pode ser considerada baixa devido a fatores relacionados a falta de conhecimento sobre as combinações entre cultivares copa e porta enxerto, sobre o hábito de frutificação dessas combinações, do conhecimento sobre polinização, e também sobre adubação e nutrição das plantas. Os nutrientes presentes no solo ou aplicados via fertilizantes nem sempre são absorvidos pelas plantas, o que torna necessário estabelecer estratégias para aumentar o aproveitamento de nutrientes pelas pereiras. O objetivo geral desse trabalho foi estabelecer estratégias para aumentar o aproveitamento de nutrientes pelas pereiras. O trabalho foi estruturado com dois estudos totalizando cinco experimentos. O Estudo 1 foi composto por um experimento com parâmetros cinéticos, onde estabelecemos o Vmax, Km, Cmin e Influxo para dois acessos de porta enxerto ?54? e ?971? testados para 15 e 30 dias de esgotamento de reservas internas de nutrientes. No experimento 2 foi avaliada a contribuição de N derivado da decomposição de resíduos de aveia branca e centeio à pereira. No terceiro experimento foram definidas as melhores doses de adubação nitrogenada em função das respostas das plantas, para os teores no solo e nas folhas durante cinco safras consecutivas, e avaliado a qualidade dos frutos na última safra estudada. O Estudo 2 foi composto por dois experimentos de calibração com adubações anuais de P e K, conduzidos durante quatro safras, em que foram aplicados anualmente as doses de 0, 40, 80, 120 e 160 kg ha-1 de P2O5 e K2O, respectivamente. A qualidade de frutos também foi avaliada durante as duas últimas safras de condução dos experimentos. Os resultados do experimento 1 do Estudo 1 demonstram que o acesso ?971? é mais eficiente na absorção de NO3- e NH4+ porque apresentou maiores valores de Vmax e Influxo. Os dados do experimento 2 do estudo 1 demonstram que o N derivado dos resíduos de aveia branca e centeio aplicados na superfície do solo foi armazenado preferencialmente em órgãos anuais, como os frutos. Contudo, a maior parte do N presente nas pereiras foi derivado a outras fontes que não aquela dos resíduos aplicados. Os resultados do experimento 3 do estudo 1 verifica-se que após cinco safras de avaliação com adubação nitrogenada não houve incremento de N nas folhas e em parâmetros de produção, evidenciando-se que as pereiras acumulam reservas de N em seus órgãos perenes. No experimento 1 do estudo 2, a aplicação de P ao longo de quatro safras incrementou os teores de P em camadas de solo e nas folhas, que refletiu no aumento de produtividade, na produção de etileno e de respiração dos frutos após 7 dias de armazenamento em temperatura ambiente. As doses mais econômicas para adubação com superfosfato triplo foram de 100,42, 156,11 e 114,31 kg P2O5 ha-1 nas safras 2013/14; 2014/15 e 2015/16, respectivamente. No experimento 2 do estudo 2, a adubação potássica aplicada em superfície ao longo de quatro safras, incrementou os teores de K em diferentes camadas de solo. As pereiras cultivadas em solos submetidas às maiores doses de K apresentaram maiores concentrações de K em folhas e produtividade, e menores valores de etileno e taxa respiratória em frutos, o que aumenta o período de armazenamento de frutos em câmara fria e de prateleira. A dose mais econômica foi de 45,40 kg K2O ha para a safra de 2016/17. Em ambos os experimentos não foi possível determinar os níveis críticos de P e K no solo e em folhas de pereiras.<br>Abstract : Brazil has only 1.305 hectares cultivated with pear trees (Pyrus communis L.) and produces no more than 14% of the pear consumed in the country. The average yield of pear per hectare is 16.9 megagrams (Mg), lower than what is observed in orchards of traditional Latin American producing countries, such as Chile e Argentina. Thus, Brazil imported in 2018, 146.778 thousand Mg to supply the internal demand for pear fruit. The small yield can be explained due to factors related to the lack of producer?s knowledge about combinations between scion and rootstock, pollination, soil fertilization, and plant nutrition. The study aimed to establish strategies to increase nutrients uptake efficiency by pear trees. Two studies were carried out, totalizing five experiments. In Study 1, Experiment 1 was performed to establish the kinetic parameters (Vmax, Km, Cmin, and Influx) in two pear tree access '54' and '971', at 15 and 30 days of internal nutrients reserves depletion. In Experiment 2, N contribution derived from white oats and rye residues decomposition was evaluated. In Experiment 3, the most economical nitrogen fertilization dose was defined considering plant reaction to soil and leaves N content during five consecutive crops, and evaluated fruits quality in the last crop studied. Study 2 was composed by two calibration experiments with annual P and K fertilization conducted during four crops, whereas doses of 0, 40, 80, 120 e 160 kg ha-1 of P2O5 e K2O were applied annually. Fruit quality was also evaluated during the last two crops for this study. The results of experiment 1 of Study 1 show that access '971' is more efficient in NO3- and NH4+ uptake because it presented higher values of Vmax and Influx. Data from experiment 2 of study 1 demonstrate that the N derived from white and rye oats residues were stored in annual organs, such as fruits. However, most of the N contained in the pear was derived from other sources. The results of experiment 3 of study 1 show that after five evaluated crops with nitrogen fertilization there was no increase of N in the leaves and yield parameters, evidencing that pear trees accumulated N reserves in their perennial organs. In experiment 1 of study 2, P application over four seasons increased P levels in soil layers and leaves, which reflected a yield increased followed by ethylene production and fruit respiration after 7 days of storage under ambient temperature. The most economical doses for triple superphosphate fertilization were 100.42, 156.11 and 114.31 kg P2O5 ha-1 in these season crops of 2013/14, 2014/15 and 2015/16, respectively. In Experiment 2 of Study 2, the potassium fertilization applied over soil surface during four crops increased P levels in different soil layers. The pear trees cultivated in soils subjected to the highest K doses presented higher K concentrations in leaves and a higher yield. However, they presented lower values of fruit ethylene production and respiratory rate, which can increase the storage period of fruits in cold rooms and on the shelf. The most economical dose was 45.40 kg K2O ha-1 for season crop of 2016/17. In both experiments, it was not possible to determine the critical levels of P and K in the soil and leaves of pear trees.