Tese
Microbiota e o comportamento de especies arbóreas nativas em diferentes solos de cerrado
Fecha
2023-01-23Registro en:
CORREIA, Carmen Regina Mendes de Araújo. Microbiota e o comportamento de espécies arbóreas nativas em diferentes solos de cerrado. 2002. 106 f., il. Tese (Doutorado em Ecologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2002.
Autor
Correia, Carmen Regina Mendes de Araújo
Institución
Resumen
A grande variedade de fitofisionomias existente no cerrado tem sido associada a diferentes fatores. A grande extensão do bioma propicia que fatores ambientais como clima, relevo, geologia, dentre outros, variem bastante. O solo parece ter importância fundamental nesta diversidade ambiental. As suas características químicas, físicohídricas e biológicas formam um complexo de inter-relações, muitas vezes, difícil de analisar. Apesar da importância do componente biológico, pouco se sabe sobre a sua atuação nos solos de Cerrado. Em função da pouca informação disponível, ainda não se pode associar a diversidade florística do Cerrado à microbiota existente nos solos. Das populações que compõem a microbiota, as micorrizas são reconhecidamente de grande importância nos ambientes oligotróficos, ou sujeitos a qualquer tipo de restrição. Haja vista a ampla ocorrência de solos distróficos no ('errado, pode-se supor que as micorrizas têm um importante papel na composição das comunidades vegetais naturais sobre estes solos. Algumas espécies vegetais do ('errado apresentam preferências na sua ocorrência, podendo algumas serem indicadoras de solos distróficos ou eutróficos, ou mesmo com elevados teores de alumínio trocável. Sugere-se que as espécies que ocorrem sobre solos distróficos podem estar sendo favorecidas por associações micorrízicas mais eficientes do que as que ocorrem nas plantas sobre solos mais férteis. Comparou-se a porcentagem de colonização micorrízica, os morfotipos de fungos micorrízicos e características dos solos em duas comunidades vegetais da região de Cerrado. Foi amostrado um cerrado xensu stricío localizada na Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília e uma mata semi-decídua na região de Alto Paraíso no estado de Goiás. Os solos são de fertilidade e comportamento físico-hídrico distintos. O do cerrado é um LATOSSOLO VERMELHO AMARELO distrófico, bem drenado e profundo. O da mata é um CHERNOSSOLO HÁPLICO, portanto eutrófico, raso e com tendência a drenagem ineficiente em profundidade. Na comunidade do cerrado houve, cm média, 16,6% de colonização micorrízica nas raízes e na mata semi-decídua 8,3%. As densidades de morfotipos de fungos e de esporos também foram maiores no solo distrófico. Baseado nas características químicas, físico-hídricas dos solos e na estrutura florística da comunidade, procurou-se discutir a diferença entre estes valores. Além da maior fertilidade do solo da mala semi-decídua, sugere-se que as características físico-hídricas deste solo devem ter contribuído para a colonização menor do que a da comunidade do cerrado sensit stricto. Para testar o comportamento de espécies arbóreas de cerrado em função das características dos solos e da presença da microbiota, conduziu-se, por 180 dias, um experimento em casa de vegetação. Baseado na hipótese de que as espécies que preferem solos distróficos seriam mais responsivas às micorrizas do que as que preferem solos meso/eutróficos, foram cultivadas seis espécies de Cerrado com diferentes preferências na ocorrência. As espécies estudadas foram Callisthenc fasciculata Mart., da família Vochysiaceae e Dipteryx alata Vog., da família Leguminosae (solos meso/eutróficos). Eugenia dysenteriea D.C., da família Myrtaceae (indiferente), Pterodon pubescens Benth. e Sclerolobium paniculatum Vog ambos da família Leguminosae e Salvertia amvallariaeodora St. Hill, da família Vochysiaceae (solos distróficos). Os solos utilizados como substrato foram os dois das comunidades estudadas e mais um considerado mesotrólico para formar um gradiente de fertilidade. Apesar de possuir um teor de cálcio trocável considerado mediano, o solo mesotrólico possui, dentre os três, o maior teor de alumínio trocável. Os três apresentaram características químicas, físico-hídricas e micorrízicas distintas. O solo mesotrófico apresentou a maior densidade de esporos de fungos micorrízicos, com número muito superior aos dois outros solos. As plantas foram cultivadas nos três solos esterilizados e naturais. Com exceção de Eugenia dysenterica, todas as espécies foram prejudicadas no seu crescimento pela esterilização do solo. As respostas à presença da microbiota variaram cm função das preferências das espécies por tipo de solo. As espécies acumuladoras de alumínio Callisthenc fasciculata e Salvertia convallariaeodora produziram mais matéria seca no solo mesotrófico, sendo que esta última foi extremamente prejudicada no solo eutrófico, provavelmente devido ao teor quase nulo de alumínio trocável. Todas as espécies de plantas formaram micorrizas, com as porcentagens de colonização variando bastante. A espécie mais colonizada, em média, foi Sclerolobium paniculatum quando cultivada no solo eutrófico, seguida da de Salvertia convallariaeodora, quando cultivada no solo distrólico. As menores porcentagens de colonização foram observadas em Eugenia dysenterica. As maiores produções de matéria seca não corresponderam às maiores colonizações. Concluiu-se que um equilíbrio entre as características químicas, físicohídricas e biológicas é importante para o bom desenvolvimento de espécies arbóreas, independente das preferências de cada uma.