Dissertação
“De amar muito mesmo, eu tava sem lugar pra mim” : afetos, subjetividade e dispositivos de gênero em mulheres que sofreram violência por parceiro íntimo
Fecha
2023-01-23Registro en:
MAGALHÃES, Bruna Maia. “De amar muito mesmo, eu tava sem lugar pra mim”: afetos, subjetividade e dispositivos de gênero em mulheres que sofreram violência por parceiro íntimo. 2021. 95 f., il. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clinica e Cultura) — Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Magalhães, Bruna Maia
Institución
Resumen
Dentro e fora do contexto clínico, as mulheres se queixam de dores de amor. Aquelas (tantas) que vivenciam relacionamentos abusivos apontam um intenso sofrimento psíquico, descritos tantas vezes como uma situação “sem saída”, em que o amor e um certo adoecimento, marcado por uma perda de si, se confundem. A violência contra a mulher enquanto problema de saúde pública que deve ser combatido (OMS, 2005) encontra na agressão física uma expressão materializada, e, portanto, mais fácil de nomear, da desigualdade nas relações íntimas heterossexuais. Nesse sentido, que afetos são despertados nas mulheres que vivenciam/vivenciaram relacionamentos íntimos desiguais ou até violentos? Como as mulheres se implicam subjetivamente nesses casos e se comprometem com projetos de “realização” amorosa? Partindo de uma leitura cultural e gendrada dos sentimentos, adota-se aqui como lente para a abordagem da problemática, uma análise mediada pelos dispositivos de gênero (Zanello, 2018) e pela antropologia das emoções (Le Breton, 2019). Sendo assim, o desenho de pesquisa proposto passa por uma checagem da produção acadêmica e um trabalho de investigação com mulheres que viveram relacionamentos íntimos violentos O primeiro artigo trata-se de uma revisão sistemática da literatura sobre a construção dos afetos e da subjetividade de mulheres brasileiras que sofre(ra)m violência em relacionamentos amorosos. O levantamento foi feito nas bases de dados SciELO, LILACS e na aba de periódicos indexados da plataforma BVSpsi. Foram selecionados 21 trabalhos e divididos em 3 categorias para a análise. Constatou-se a escassez de artigos que tratam sobre as emocionalidades de mulheres nesse contexto e a quase ausência de algum que adotasse uma perspectiva crítica de gênero sobre os afetos. O segundo artigo teve por objetivo investigar os sentimentos, afetos e emoções vivenciados por mulheres que sofreram violência física em relacionamento íntimo, como eles se configuraram e se manifestaram na inserção, manutenção e saída de um relacionamento violento heterossexual. Foi realizado um estudo de casos múltiplos. Para tanto, foram realizadas entrevistas com cinco mulheres. O material foi transcrito e analisado por duas pesquisadoras, primeiramente de forma separada. Depois, em conjunto, buscou-se suas singularidades e semelhanças, levando-se em conta uma análise por meio dos dispositivos de gênero (Zanello,2018). Na discussão desenvolvida neste artigo, foram abordadas observações sobre os seguintes temas: 1) Satisfação narcísica de ser escolhida, ser especial); 2) Formas de violência; 3) Afetos Mobilizados; 4) “O amor da minha vida”: idealização do amor romântico; 5) Importância da entrada do “terceiro” na ruptura do ciclo; 6) Descentramento do amor romântico e suporte do Estado: possíveis vias de saída.