Tesis
O Jerivá - Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman (Arecaceae) - fenologia e interações com a fauna no Parque Municipal da Lagoa do Peri, Florianópolis, SC.
Autor
Begnini, Romualdo Morelatto
Institución
Resumen
TCC(graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências Biológicas. Biologia. O conhecimento de comportamentos fenológicos de florescimento e de frutificação
é importante para compreender o sucesso reprodutivo das plantas, assim como a dispersão
das sementes. A dispersão interfere na demografia e na estrutura genética populacional de
espécies arbóreas tropicais. A predação de sementes, também é relevante, pois pode gerar
grandes reduções na quantidade de sementes disponíveis para o recrutamento das
populações de plantas, principalmente na área compreendida sob a copa das plantas
parentais.
As palmeiras estão entre as espécies de plantas vasculares mais abundantes nos
trópicos e mais importantes para os frugívoros como fonte alimentar. Isto por que seus
frutos constituem uma rica fonte de energia para os animais, e por serem espécies com
longos períodos de frutificação. Syagrus romanzoffiana conhecido popularmente como
jerivá, é uma palmeira que está amplamente distribuída no Brasil (desde o sul da Bahia,
Espírito Santo, Minas Gerais e Goiás até o Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul).
Este estudo foi realizado no Parque Municipal da Lagoa do Peri (PMLP), localizado
no sul da Ilha de Santa Catarina, com área de 2000 ha. Ele propôs-se a caracterizar os
comportamentos fenológicos reprodutivos da palmeira Syagrus romanzoffiana, identificar a
época e duração de oferta de frutos, avaliar a ocorrência e intensidade dos processos de
remoção e dispersão de frutos e sementes, e avaliar as taxas de perda de sementes pela
predação por insetos e vertebrados.
Nosso acompanhamento registrou a ocorrência de três ciclos reprodutivos entre junho
de 2006 e maio de 2008. O comportamento fenológico da população de jerivá foi periódico,
podendo ser classificado como anual. A floração do jerivá aconteceu em um evento único
com duração de até seis meses, ocorrendo no final da primavera e verão na região. O
período da frutificação foi mais extenso que a floração, com presença de frutos verdes em
todos os 24 meses acompanhados. O amadurecimento das infrutescências deu-se no período
de outono, inverno e primavera local, prolongando-se por até seis meses. Houve correlação
significativa positiva da fenofase de floração com os fatores climáticos (fotoperíodo,
temperatura e precipitação) e correlação significativa negativa da fenofase de frutificação
(fruto maduro) com os mesmos fatores climáticos Um total de 6500 frutos foi recolhido em 40 parcelas de 0,25m2, ao longo de todo o
período de coletas, o que mostra que o Syagrus romanzoffiana apresenta uma elevada
produção de frutos. No PMLP registramos um número de 11 frugívoros consumidores e
possíveis consumidores dos frutos de jerivá, sendo quatro espécies de mamíferos:
Dasyprocta azarae (cutia), Orizomídeo (rato-do-mato), Didelphis aurita (gambá-de-orelhapreta)
e Cerdocyon thous (graxaim), e sete espécies de aves: Ortalis guttata (aracuã),
Ramphastos dicolorus (tucano-de-bico-verde), Ramphastos vitellinus (tucano-de-bicopreto),
Pionus maximiliani (maitaca), Coereba flaveola (cambacica), Parula pitiayumi
(mariquita) e Cyanocorax caeruleus (gralha-azul).
A cutia foi o frugívoro mais registrado na área, sendo assim, considerada a espécie
dispersora e predadora de sementes mais importante.
Encontramos três espécies de Curculionídeos predando as sementes de jerivá, Revena
rubiginosa, Anchylorhynchus variabilis e Anchylorhynchus aegrotus, com destaque para R.
rubiginosa, a qual apresenta uma relação espécie-específica com o S. romanzoffiana. A
predação de sementes por insetos caracterizou-se por acontecer exclusivamente no período
pré-dispersão, não se encontrando predação pós-dispersão. Syagrus romanzoffiana
apresentou altas taxas de predação por insetos, com valores médios mantendo-se superiores
a 60% durante todo o período de avaliação. Estas taxas não foram influenciadas pela
variação na intensidade da frutificação entre os ciclos.
Encontramos baixo registro de sementes predadas por vertebrados, especialmente
roedores, apenas 1% no primeiro ciclo, possivelmente por que temos poucos frugívoros
roedores no PMLP. O esquilo, considerado o principal predador de sementes de S.
romanzoffiana, não ocorre na Ilha de Santa Catarina.