Tesis
Sereia do asfalto, rainha do luar: configurações da personagem travesti no romance contemporâneo brasileiro
Fecha
2020-02-19Registro en:
000929479
33004153015P2
5980841495163205
0000-0002-8297-0419
Autor
Nigro, Cláudia Maria Ceneviva [UNESP]
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Institución
Resumen
Esta pesquisa analisa as construções literárias de personagens travestis em três romances contemporâneos brasileiros, a saber: A inevitável história de Letícia Diniz (2006), de Marcelo Pedreira, Elvis e Madona: uma novela lilás (2010), de Luiz Biajoni, e As fantasias eletivas (2014), de Carlos Henrique Schroeder. A partir de reflexões sustentadas na analítica queer e nos estudos de gênero, o objetivo é perceber possíveis convencionalismos na elaboração discursiva dessas personagens, historicamente marcadas por subalternidade e abjeção. Tais abordagens auxiliam na concepção das travestilidades, alicerçadas em Fernández (2003, 2004), Benedetti (2005), Pelúcio (2009), Lanz (2015) e Vartabedian (2018). A pesquisa tem, ainda, como aporte teórico, os postulados de Butler (1993, 2003, 2004), Preciado (2014) e Foucault (1996, 1997, 2018), acerca das noções de gênero, corpo, performatividade e abjeção; Candido (2005) e Fernandes (2016) sobre a personagem ficcional; Hall (2006) sobre o “sujeito fragmentado”; além de teorias literárias contemporâneas, a partir de Dalcastagnè (2012) e Santos e Oliveira (2010). Das análises divididas em torno das descrições dos corpos e enunciadas por narradores em terceira pessoa e pela(s) voz(es) assumida(s) nos textos, pode-se afirmar que as narrativas são construídas na ambiguidade (no corpo das personagens e no corpo dos textos) e na contradição. As personagens travestis, em suas performatividades de gênero, questionam a essencialidade das identidades fixas e demonstram o desejo de inteligibilidade social, mesmo que atrelado ao modelo heteronormativo. Ao mesmo tempo, elas ainda permanecem como o “outro” nos discursos – o “outro” sexualizado, objetificado e sem voz, demonstrando certo “limite de perspectiva” também articulado politicamente nas narrativas. No corpus elencado, apesar das particularidades de cada obra, a ordem heterocentrada – perceptível na reprodução de temas seculares como a morte trágica e a impossibilidade enunciativa, peças na construção do estigma travesti – coexiste com as estratégias específicas e pontuais de resistência e deslocamento dos discursos binários e cisheteronormativos presentes nos textos. This research analyzes literary constructions of travestis characters in three Brazilian contemporary novels, namely: A inevitável história de Letícia Diniz (2006), by Marcelo Pedreira, Elvis e Madona: uma novela lilás (2010), by Luiz Biajoni, and As fantasias eletivas (2014), by Carlos Henrique Schroeder. From reflections sustained mainly in queer analytics and gender studies, the objective is to perceive possible conventionalism in the discursive elaboration of these characters, historically marked by subalternity and abjection. Such approaches help on the conception of travestilidades, based on Fernández (2003, 2004), Benedetti (2005), Pelúcio (2009), Lanz (2015) and Vartabedian (2018). The research also has as theoretical foundations the postulates of Butler (1993, 2003, 2004), Preciado (2014) and Foucault (1996, 1997, 2018), about the notions of gender, body, performativity and abjection; Candido (2005) and Fernandes (2016) about the fictional character; Hall (2006) on the “fragmented subject”; besides contemporary literary theories, from Dalcastagnè (2012) and Santos and Oliveira (2010). In the analysis, divided around the descriptions of the bodies enunciated by third-person narrators and the voice (s) assumed in the texts, it can be stated that the narratives are built on ambiguity (on the body of characters and on the body of texts) and the contradiction. The travestis characters, in their gender performativities, question the essentiality of fixed identities and demonstrate the desire for social recognition, even if linked to heteronormative model. At the same time, they still remain the “other” in discourses – sexualized, objectified, and voiceless “other”, demonstrating a certain “limit of perspective” that is also politically articulated in the narratives. In the listed corpus, despite the particularities of each work, the heterocentered order – perceptible in secular themes reproduction such as tragic death and enunciative impossibility, pieces in the construction of the travesti stigma – coexists with specific and sharp strategies of resistance and displacement of binary, heteronormative and cisgender discourses present in the texts.