Tese (Doutorado)
Concepções de infância: um estudo do Manual para os Jardins da Infância do Dr. Menezes Vieira (1882)
Autor
Gonzalez, Keila Cristina Villamayor
Institución
Resumen
Esta pesquisa é um estudo em nível de doutorado, constituído na linha de pesquisa Educação e Infância, com abordagem sobre a história da educação infantil brasileira e está inserida na relação entre pedagogia e história, ao investigar as concepções de infância e criança presentes em um manual pedagógico voltado para os jardins de infância na segunda metade do século XIX. Foi selecionado como fonte e objeto de estudo um dos primeiros manuais pedagógicos destinados às crianças brasileiras no jardim de infância, o Manual para os Jardins da Infância: ligeira compilação pelo Dr. Menezes Vieira, de 1882, reproduzido como anexo na publicação de Maria Helena Câmara Bastos (2011). O objetivo geral deste trabalho se constitui em investigar as concepções de infância e criança presentes no manual pedagógico do Dr. Menezes Vieira. Para atingir o objetivo proposto, foram organizados capítulos: primeiro, uma introdução sobre o tema, em que são apresentados a pesquisadora, os objetivos e a questão da pesquisa, acompanhados dos caminhos metodológicos. No segundo capítulo, é feita uma contextualização do período, abordando a infância, marcada pela condição social das crianças, as primeiras instituições de educação para a pequena infância e os manuais pedagógicos, constituídos como instrumentos desta educação. O terceiro capítulo apresenta o manual e o autor analisados, com destaque para os debates na imprensa periódica da época sobre os jardins de infância, que também envolveram a participação das mulheres na docência. O foco do quarto capítulo é a análise das concepções de infância e criança identificadas no manual, em diálogo com a discussão pedagógica do período, os autores citados e as influências teóricas predominantes. No quinto e último capítulo, são abordados os desdobramentos das concepções em pauta sobre a docência e os materiais indicados no manual, estabelecendo-se os primórdios da constituição de uma cultura material para a educação infantil. As principais técnicas desenvolvidas para a coleta dos dados foram: levantamento dos documentos (manuais pedagógicos, decretos, leis); levantamento das notícias sobre o jardim de infância nos jornais do final do século XIX (Gazeta de Notícias, O Cruzeiro e Jornal do Commercio); pesquisa bibliográfica; exploração do manual pedagógico e posterior análise de referenciais teóricos pertinentes à pesquisa. Para fundamentar os estudos, reuniu-se os trabalhos de um conjunto de pesquisadores que guiaram os principais temas: sobre a história da infância e das instituições para as crianças pequenas são utilizadas as ideias e registros dos pesquisadores brasileiros que têm contribuído para a historicidade da infância brasileira, tais como Moysés Kuhlmann Júnior (1998, 2000, 2001, 2004, 2014); Carlos Monarcha (2001); Mary del Priore (2009); José Gondra (2002); Maria Helena Câmara Bastos (2001b, 2002a, 2011). As discussões sobre culturas materiais e cultura escolar foram embasadas em ViñaoFrago (1995, 2001), Agustin Escolano Benito (2008, 2009, 2012); sobre os manuais pedagógicos baseou-se emDenice Bárbara Catani (2010), Vivian Batista da Silva (2010) e Silva (2005, 2010, 2018); sobre a discussão da imprensa periódica em Nóvoa (2002) e Schueler e Teixeira (2006). A análise de conteúdo de Laurence Bardin (1977) e Jorge Vala (1986) fundamentou a pesquisa do ponto de vista metodológico. As contribuições do pedagogo alemão Friedrich Froebel (2001) permearam toda a pesquisa e sustentaram a análise do Manual, assim como Roger Chartier (1990, 2002) sobre a ideia de representação. Constatou-se a predominância de uma concepção de infância ligada ao desenvolvimento físico e biológico da criança, que caracteriza um conceito de natureza infantil, vinculado a uma ideia de moral determinante para as formas de pensar sobre a educação da infância e a ação docente, desdobrando-se em ações coerentes com a moralização, para projetar o papel de professora, da mulher e das instituições de educação infantil para a sociedade. A existência de ações e materiais específicos para as crianças da reverbera na legitimação da constituição histórica de uma cultura material da educação infantil. Abstract: This research is a study at the doctoral level, constituted in the line of research Education and Childhood with an approach on the history of Brazilian early childhood education and is inserted in the relationship between pedagogy and history when investigating the conceptions of childhood and children present in a pedagogical manual aimed at for kindergartens in the second half of the 19th century. One of the first educational manuals for Brazilian children in kindergarten was selected as the source and object of study, the Manual for Kindergartens: a slight compilation by Dr Menezes Vieira, from 1882, reproduced as an attachment in the publication by Maria Helena Câmara Bastos (2011). The general objective of this work is to investigate the concepts of childhood present in the pedagogical manual of Dr Menezes Vieira. To achieve the proposed objectives, chapters were organized, first, an introduction on the theme, in which the researcher, the objectives and the research question are presented, accompanied by methodological paths. In the second chapter, contextualization of the period is made, addressing childhood marked by the social condition of children, the first educational institutions for young children and pedagogical manuals, constituted as instruments of this education. The third chapter presents the analyzed manual and author, with emphasis on the debates in the periodic press of the time about kindergartens, which also involved the participation of women in teaching. The focus of the fourth chapter is the analysis of the conceptions of childhood and children identified in the manual in dialogue with the pedagogical discussion of the period, the authors cited and the predominant theoretical influences. In the fifth and last chapter, the unfolding of the conceptions on the agenda about teaching and the materials indicated in the manual are discussed, establishing the beginnings of the constitution of material culture for early childhood education. The main techniques developed for data collection were: survey of documents (pedagogical manuals, decrees, laws); survey of news about kindergarten in newspapers of the late 19th century (Gazeta de Notícias, O Cruzeiro and Jornal do Commercio); bibliographic research; exploration of the pedagogical manual and subsequent analysis of theoretical references relevant to research. To support the studies, the work of a group of researchers who guided the main themes was gathered: on the history of childhood and institutions for young children, the ideas and records of Brazilian researchers who have contributed to the historicity of Brazilian childhood are used, such as Moysés Kuhlmann Júnior (1998, 2000, 2001, 2004, 2014); Carlos Monarcha (2001); Mary del Priore (2009); José Gondra (2002); Maria Helena Câmara Bastos (2001b, 2002a, 2011). The discussions on material cultures and school culture were based on ViñaoFrago (1995, 2001), Agustin Escolano Benito (2008, 2009, 2012); on pedagogical manuals, it was based on Denice Bárbara Catani (2010), Vivian Batista da Silva (2010) and Silva (2005, 2010, 2018); on the discussion of the periodical press in Nóvoa (2002) and Schueler e Teixeira (2006).Content analysis by Laurence Bardin (1977) and Jorge Vala (1986) supported the research from a methodological point of view. The contributions of the German pedagogue Friedrich Froebel (1826/2001) and Roger Chartier (1990, 2002) on the idea of representation permeated the entire research and supported the analysis of the manual. There was a predominance of a conception of childhood linked to the child's physical and biological development, which characterizes a concept of childhood nature, linked to an idea of moral determinant for the ways of thinking about childhood education and teaching action, unfolding to take actions consistent with moralization to project the role of teacher, woman and early childhood education institutions to society. The existence of specific actions and materials for children in early reverberates in the legitimation of the historical constitution of material culture in early childhood education.