Dissertação (Mestrado)
Homens, masculinidades e estratégias de enfrentamento à violência de gênero: sentidos co-construídos com um grupo de estudantes
Fecha
2020Autor
Guimarães, Ariane Noeremberg
Institución
Resumen
Este estudo concebe a relação entre masculinidades e violências enquanto uma construção social, o que significa reconhecer que masculinidades hegemônicas se construíram na violência contra mulheres, crianças e comunidade LGBT, assim como consiste em admitir que também há homens que sofrem com esses pressupostos por viverem vidas limitadas, com pouco contato com suas emoções. Sobretudo, significa aceitar que inclusive essas masculinidades são passíveis de desconstrução e reconstrução, portanto, que homens podem aprender a criar relações diferentes que não sejam baseadas na violência. A escola tem papel fundamental neste trabalho, pois se trata de um ambiente de forte construção e atualização de noções de feminilidades e masculinidades. A escola muitas vezes é um espaço que nutre e estimula as invisibilidades, mas também pode ser um lugar que trabalhe com a visibilização da igualdade e das diferenças. Com base epistemológica no Construcionismo Social, esta dissertação teve por objetivo geral identificar os sentidos de masculinidades co-construídos com um grupo de estudantes e, a partir desses sentidos, analisar as possíveis estratégias de enfrentamento à violência de gênero. O grupo foi realizado em seis encontros no formato de Grupos Reflexivos de Gênero, com as devidas adaptações para as condições da pesquisa. Participaram 20 estudantes (19 homens e uma mulher) de um curso técnico subsequente ao ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. Os materiais produzidos foram analisados utilizando como apoio principal a análise temático-sequencial. Sentidos diversos sobre masculinidades foram co-construídos com os estudantes, de modo que foi possível produzir, no grupo, a noção de masculinidades, no plural, como formas diferentes de cada um vivenciar a sua masculinidade conforme suas condições históricas, sociais e culturais de vida. Destacaram-se os sentidos de masculinidades relacionadas à autoria de violências de gênero e de masculinidades relacionadas ao sofrimento de violências de gênero, de modo que foi possível se pensar em estratégias de enfrentamento à violência de gênero com o intuito de proteger homens e mulheres do machismo. Dentre as estratégias, as que se mostraram mais relevantes foram a desconstrução de sentidos de masculinidades e o trabalho com grupos reflexivos. Outras surgiram, como: sair de cena ou ficar em silêncio, não contribuindo para a continuidade das violências já proferidas, se houver a percepção de que há risco de mais violências; se posicionar contra as violências de gênero quando sentir segurança de que não haverá retaliação; não fazer e não rir de piadas machistas, visto que por meio delas é reproduzida uma série de ?clichês? que constroem e cristalizam significados de masculinidades tradicionais; não colaborar com o ciclo da violência; respeitar as diversidades; realizar trabalhos com crianças e adolescentes, na intenção de construir futuras gerações baseadas em relações mais equitativas de gênero. Por fim, ressaltou-se que, ao significar o grupo reflexivo como uma das estratégias, a própria pesquisa se tornou uma forte estratégia de enfrentamento à violência de gênero. Assim, o caráter pragmático desta pesquisa oferece pistas para ações sociais e políticas públicas, podendo ser de grande utilidade para práticas acadêmicas e profissionais. Abstract: This study designs the relationship between masculinities and forms of violence as a social construction, which means recognizing that hegemonic masculinities were constructed through violence against women, children and the LGBT community, as well as admitting that there are also men who suffer from these assumptions because they have their lives limited, with little contact with their emotions. Above all, it means accepting that even these masculinities are susceptible to deconstruction and reconstruction; therefore, men can learn to establish different relationships that are not based on violence. The school has a key role in this work, as it is an environment of strong construction and updating of notions of femininities and masculinities. The school is often a space that nourishes and encourages invisibilities, but it can also be a place that works with the visibility of equality and diferences. With an epistemological basis on Social Constructionism, this dissertation had the general objective of identifying the meanings of masculinities co-constructed with a group of students and, based on these meanings, analyzing the possible strategies to cope with gender-based violence. The group was held in six meetings in the format of Gender Reflective Groups, with the proper adaptations to the research conditions. It was attended by 20 students (19 males and one female) from a technical course subsequent to high school at the Federal Institute of Education, Science and Technology of Santa Catarina. The materials produced were analyzed using thematic-sequential analysis as the main support. Several meanings about masculinities were co-constructed with the students, so that it was possible to produce, within the group, the notion of masculinities, in the plural, as different ways for each one to experience its masculinity according to their historical, social and cultural conditions of life. The meanings of masculinities related to the authorship of gender-based violence and masculinities related to the suffering of gender-based violence stood out, so that it was possible to think about strategies to cope with gender-based violence, with a view to protecting men and women from machismo. Among the strategies, the most relevant ones were the deconstruction of meanings of masculinities and the work with reflective groups. Others were raised, such as: leaving the scene or remaining silent, thereby not contributing to the continuity of the forms of violence already issued, if there is a perception that there is a risk of further violence; taking a stand against gender-based violence when you feel confident that there will be no retaliation; not making and not laughing at sexist jokes, since, through them, a series of \"clichés\" are reproduced, which construct and crystallize meanings of traditional masculinities; not collaborating with the cycle of violence; respecting the diversities; performing activities with children and adolescents, with the aim of constructing future generations based on more equitable gender relationships. Lastly, it was highlighted that, when meaning the reflective group as one of the strategies, the research itself became a strong strategy to cope with gender-based violence. Accordingly, the pragmatic nature of this research offers clues for social actions and public policies, which can be of great usability for academic and professional practices.