Tesis
Competências em informação, mídias e tecnologias digitais e a desconstrução de estereótipos de gênero: práticas de ensino críticas
Autor
Doyle, Andréa
Institución
Resumen
From the mid 70's on, two ideas gained strength, in parallel: that information,
understood as a contextual intersubjective element, is a strategic resource that, if
taught, would prepare people to act in contemporary society; and that gender
discrimination, also socially constructed, is harmful to women in particular, and to
society in general and must be fought. The juxtaposition of these phenomena
suggests a relation between information, media and digital literacies and the search
for gender equality. The objective of this research is, then, to map and analyze the
literature on how to teach information, media and digital literacy from a critical
standpoint, and highlight in which ways they can promote the deconstruction of
gender stereotypes. Initially, literature on information, media and digital literacies
was mobilized, with emphasis on critical movements within these fields, as well as
transversal concepts of literacy, transliteracies, media and information literacy (MIL)
and 21st century skills. Then literature on gender stereotypes and the damage they
cause (denial, invisibility, objectification, symbolic and physical violence) was
presented and followed by a discussion with the feminist theories by, among others,
Donna Haraway, Djamila Ribeiro and Grada Kilomba and the critical pedagogy of
Paulo Freire and bell hooks, finalized by an analysis of Vera Dodebei's
interdisciplinary method for concept design. Systematic Literature Mapping (SLM)
and content analysis by Laurence Bardin were adopted as methodological resources
to select and analyse literature. The SLM resulted in a selection of 65 critical MIL
teaching practices that reveals that there are practices on all continents, with a great
variety of formats, theories and social themes, which can scaffold a wide range of
new initiatives. From this corpus, 23 works were extracted, which also discuss
gender and stereotypes. Six (6) categories, based on feminisms and MIL, were
created for qualitative analysis: point of view, self-criticism, collaboration,
deconstruction, empowerment and living well. The results indicate that critical
teaching practices that can support the deconstruction of gender stereotypes
involve one or some of the following characteristics: people start acknowledging
themselves as a subjects, in their body, with their contexts (point of view); question
their ways of thinking and acting (self-criticism); broaden their views, sharing and
learning with other people (collaboration); identify the power reproduction of visions
that dominate with others and seeks counter-narratives (deconstruction); when they
understand their devaluation is intentional, they recognize their value and feel
strengthened (empowerment); and join other people who continuously fight for
social justice and seek a better life (living well). It is concluded that in order to
deconstruct gender stereotypes through the teaching of information, media and
digital literacies, it is necessary to promote activities of reading, critical reflection,
analysis of stereotypes and production of counter-narratives, based on collaborative
processes of continuous struggle for social justice and happiness. We hope to
inspire a more critical and more feminist approach to life for the sake of living well
among people and with nature. Duas ideias ganham força na década de 1970: que a informação, entendida como
elemento intersubjetivo contextual, é um recurso estratégico que, ensinado, prepara
indivíduos para atuar na sociedade contemporânea; e que a discriminação de
gênero, também socialmente construída, além de injusta com as mulheres, é
prejudicial a toda a sociedade, devendo ser combatida. A justaposição desses
fenômenos sugere uma relação entre o ensino de competências em informação e
uma busca por equidade de gênero. O objetivo desta pesquisa foi mapear e analisar
a literatura sobre o ensino competências em informação, mídias e tecnologias
digitais a partir de uma postura crítica e destacar de que forma essas competências
podem subsidiar propostas de desconstrução de estereótipos de gênero.
Mobilizou-se, inicialmente, literatura sobre competências em informação, em mídias
e em tecnologias digitais com destaque para os movimentos críticos desses
campos, além de conceitos transversais como o de literacia, transliteracias,
Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) e habilidades do século XXI. Em
seguida, apresentou-se literatura sobre estereótipos de gênero e os prejuízos que
eles causam (negação, invisibilização, objetificação, violência simbólica e física),
seguida de discussão com teorias feministas, como as de Donna Haraway, Djamila
Ribeiro e Grada Kilomba e com a pedagogia crítica de Paulo Freire e bell hooks,
finalizada com uma análise do método interdisciplinar de conceituação de Vera
Dodebei. Como recursos metodológicos para a seleção e análise da literatura,
utilizaram-se o Mapeamento Sistemático de Literatura (MSL) e a análise de
conteúdo de Laurence Bardin. O MSL resultou em uma seleção de 65 práticas
críticas de ensino de AMI que revela que há práticas em todos os continentes, com
uma variedade enorme de formatos, de teorias e temas sociais, podendo subsidiar
uma ampla gama de novas iniciativas. Desse corpus, extraiu-se 23 trabalhos que
também tratam de gênero e estereótipos. Criou-se seis (6) categorias, pautadas nos
feminismos e na AMI, para sua análise: ponto de vista, autocrítica, colaboração,
desconstrução, empoderamento e bem viver. Os resultados indicam que práticas de
ensino críticas que podem subsidiar a desconstrução de estereótipos apresentam
uma ou algumas das seguintes características: a pessoa se percebe como sujeito,
no seu corpo, com seus contextos (ponto de vista); se questiona sobre seus modos
de pensar e agir (autocrítica); amplia seu olhar, compartilhando e aprendendo com
outras pessoas (colaboração); ela identifica a reprodução de poder das visões que
se sobrepõem a outras e busca contranarrativas (desconstrução); ao entender que
sua desvalorização é intencional, reconhece seu valor e se fortalece
(Empoderamento) e se junta a pessoas que lutam continuamente pela justiça social
e buscam uma vida melhor (bem viver). Conclui-se que para desconstruir
estereótipos de gênero por meio do ensino de competências em informação, mídias
e tecnologias digitais são necessárias atividades de leitura, de reflexão crítica, de
análise de estereótipos e de produção de contranarrativas, a partir de processos
colaborativos de luta contínua por justiça social e felicidade. Espera-se inspirar uma
abordagem mais crítica e mais feminista em diversas práticas em prol do bem viver
entre pessoas e com a natureza.