Tesis
Desvinculação de receitas da união e déficit de accountability : um estudo na política pública de saúde no Brasil
Fecha
2020-07-03Registro en:
BARBOSA, Eliedna de Sousa. Desvinculação de receitas da união e déficit de accountability: um estudo na política pública de saúde no Brasil. 2020. 184 f., il. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.
Autor
Barbosa, Eliedna de Sousa
Institución
Resumen
Esta tese analisa como o déficit de accountability na Desvinculação de Receitas da União (DRU)
influencia a alocação de recursos na política pública de saúde no Brasil. Trata de um estudo explicativo,
descritivo, de natureza qualitativa e quantitativa, com revisão sistemática da literatura, consulta pública,
análise de conteúdo, levantamento de dados e testes estatísticos. A amostra da DRU compreendeu de
janeiro de 1994 até março de 2019, perfazendo 303 observações mensais e da alocação de recursos
na política pública de saúde, o período foi de 2000 até 2017, correspondendo a 216 observações
mensais. A metassíntese limitou-se a treze estudos sobre a accountability no setor público e nove
estudos sobre a alocação de recursos na política pública de saúde, sinalizando que na literatura
internacional, na área de business, management e accountability, há um consenso sobre a
compreensão do temo accountability, como dever de prestar contas e responsabilização, advinda de
uma variável-chave da Ciência Política, que é o poder e a necessidade de controlá-lo, apontando o
déficit de accountability no setor público como lacuna de pesquisa na agenda internacional. Quanto a
alocação de recursos na política pública de saúde, na área de Ciências Contábeis o tema é pouco
explorado e a maioria dos estudos é voltado para cuidados de saúde e controle de doenças. A
triangulação teórica entre a Teoria da Contabilidade, a Public Choice Theory (PCT - Teoria da Escolha
Pública) e a Actor-Network Theory (ANT - Teoria Ator-Rede), sobre a accountability, revelou
implicações práticas relacionadas à inquietude humana de controlar o exercício do poder e os atores
envolvidos. Sob o ponto de vista empírico, a ausência de identificação de uma conta específica no
ementário da receita pública, de informações contábeis detalhadas e de evidenciação nas
demonstrações contábeis e nos demonstrativos fiscais, que impossibilitam a verificação da gestão dos
recursos livres da DRU no Brasil, demonstra a existência de déficit de accountability e corrobora com
a literatura internacional. De janeiro de 1994 até março de 2019, a DRU representou, na média,
aproximadamente, 4% do PIB per capita brasileiro, com crescimento da arrecadação da União centrado
na expansão das receitas de contribuições e na retração das receitas de impostos, o que enfatiza uma
política desonerativa, com reflexos diretos na partilha de recursos com os entes subnacionais. Por sua
vez, por meio de quase-experimento com teste de regressão com série temporal interrompida, a
influência da DRU na alocação dos recursos na política pública de saúde no Brasil não foi confirmada.
Apenas o PIB foi significativo para explicar variações nos recursos alocados. Resultado similar foi
observado nas regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste. Na região Sul, nenhuma das variáveis foi
significativa. Contudo, ao ampliar a lente sobre os estados, a implementação da DRU (Emenda
Constitucional n.º 93/2016) foi significativa em Alagoas, Bahia, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e
Sergipe, apresentando impacto negativo da DRU. Assim, há evidências de que o déficit de
accountability no mecanismo da DRU do governo brasileiro, com o fim precípuo de incrementar os
recursos em seu poder, em detrimento dos demais atores envolvidos, gera diversas externalidades
negativas que se renovam a cada nova prorrogação dele e que influencia na alocação de recursos na
política pública de saúde no Brasil, na medida que fragilidades de transparência, controle e aspectos
implícitos do sistema dificultam sua rastreabilidade e mantém os questionamentos sobre a partilha dos
recursos entre os entes federados.