Tesis
Características perceptivoauditivas e acústicas da voz do surdo usuário de implante coclear
Fecha
2021-11-22Registro en:
MEDVED, Daniela Malta de Souza. Características perceptivoauditivas e acústicas da voz do surdo usuário de implante coclear. 2021. 110 f., il. Tese (Doutorado em Ciências Médicas)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Medved, Daniela Malta de Souza
Institución
Resumen
INTRODUÇÃO: A avaliação perceptivoauditiva da voz é considerada padrão ouro na avaliação
da qualidade da voz, no entanto, é subjetiva e influenciada pelos critérios utilizados, pela
habilidade e experiência do profissional. A análise acústica permite a quantificação e
caracterização de diferentes parâmetros do sinal sonoro vocal de forma não invasiva. O indivíduo
com perda auditiva apresenta desvio da frequência fundamental (F0), mudança nas frequências
dos formantes, variações na intensidade vocal, bem como alteração na ressonância, velocidade
de fala/taxa de elocução e duração dos sons. Nesse contexto, surge a hipótese de que o modelo
de produção da voz de surdos usuários de implantes cocleares apresenta diferenciação no nível
fisiológico. OBJETIVO: explorar as características perceptivoauditivas e acústicas da voz de
surdos usuários de implante coclear. MÉTODO: O trabalho foi desenvolvido em dois
experimentos. Fase 1: Realizada a revisão sistemática seguindo o Checklist of Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analysis (PRISMA). A busca foi realizada em
inglês, espanhol e português, em cinco bases de dados: PubMed, SCOPUS, Web of Science,
LILACS e SpeechBITE e, adicionalmente, foi realizada uma busca na literatura cinzenta nas
bases: Google Acadêmico, OpenGrey e ProQuest. Não houve restrição temporal, devido à
característica exploratória da pesquisa inicial. Fase 2: Foi utilizado o banco de vozes de surdos
adultos que compôs o estudo “Desenvolvimento e validação de um protocolo de avaliação
perceptivoauditiva da voz de deficientes auditivos usuários de implante coclear”. As amostras
foram divididas em grupo controle (GC – ouvintes) e grupo experimental (GE – surdos usuários
de implante coclear), pareados em faixa etária e gênero. As amostras de voz coletadas
correspondiam à emissão sustentada da vogal /a/, fala encadeada e conversa espontânea. Para
a análise perceptivoauditiva foi utilizado o Protocolo de Avaliação da Voz do Deficiente Auditivo
e para a análise acústica foi utilizado o software PRAAT. Para a filtragem cepstral, foram
identificadas no mínimo quatro palavras na conversa espontânea com a vogal /a/ nas posições
tônica, pré-tônica e pré-tônica longe, em contexto oral. Esses sons foram agrupados em um script
e realizado um janelamento destes dados a cada 100 Hz e extraído o espectro médio.
RESULTADOS: Fase 1: Foram identificadas 1.052 publicações que atenderam aos critérios de
busca. Após a aplicação do checklist PRISMA, exclusão de duplicatas e leitura do texto completo,
10 publicações foram selecionadas para a análise completa. Embora vários sejam os parâmetros
estudados, há grande variação nos desenhos dos estudos, tamanho das amostras, idade/faixa
etária dos participantes, amostras de voz analisadas e especificações do implante coclear. Fase
2: No gênero masculino a avaliação perceptivoauditiva do GE apresentou escores mais elevados
nos parâmetros tensão, pitch e loudness, na vogal sustentada; ressonâncias excessivamente
faríngea, hipernasal e posterior, tensão e grau geral na fala encadeada e coordenação
pneumofonoarticulatória, ressonâncias excessivamente laríngea, hiponasal, hipernasal e
posterior, tensão, soprosidade, instabilidade e grau geral na conversa espontânea. No gênero
feminino, os maiores escores no GE foram identificados nas ressonâncias excessivamente
laríngea, faríngea, hiponasal, hipernasal e anterior, tensão, instabilidade e grau geral na fala
encadeada; coordenação pneumofonoarticulatória, ressonâncias excessivamente laríngea,
faríngea, hipernasal e posterior; tensão, rugosidade, instabilidade e grau geral na conversa
espontânea. Houve diferença entre o GC e o GE na frequência fundamental (104,1 e 127,0 Hz,
p = 0,035 entre os homens / 184,0 e 213,6 Hz, p = 0,011 entre as mulheres), os demais
parâmetros avaliados (jitter, shimmer, proporção harmônico-ruído, intensidade e formantes – F1,
F2, F3 e F4) não mostraram diferenças entre os GC e GE, independente do gênero. Não foi
observada a presença de antiformantes e/ou aumento das larguras de banda, sugestivos de
nasalidade, na filtragem cepstral. Não foram identificados formantes nasais nas faixas de
frequência esperadas. A ação conjunta dos articuladores favorece a identificação perceptiva de
nasalidade percebida na voz do surdo usuário de implante coclear. CONCLUSÃO: Os dados
normativos disponíveis na literatura sobre a voz de surdos usuários de IC são consistentes
apenas para F0 e é necessária melhor avaliação do nível de evidência dos desenhos dos
estudos, por falta de padronização e metodologia com indicadores de qualidade. Há linearidade
entre os parâmetros da avaliação perceptivoauditiva e da acústica. A produção vocal dos GC e
GE são semelhantes e o GE não apresenta características de aumento da largura de banda
compatíveis com nasalidade.