Tesis
Andando à procura dessa vida : dinâmicas de deslocamento na província de Tete-Moçambique, do colonialismo tardio à mineradora Vale
Walking in search of this Life : dynamics of displacement in the province of Tete-Mozambique, from colonialism to the minerador Vale
Registro en:
GALLO, Fernanda Bianca Gonçalves. Andando à procura dessa vida: dinâmicas de deslocamento na província de Tete-Moçambique, do colonialismo tardio à mineradora Vale. 2017. 1 recurso online (299 p.). Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP.
Autor
Gallo, Fernanda Bianca Gonçalves, 1979-
Institución
Resumen
Orientador: Omar Ribeiro Thomaz Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Resumo: Esta tese busca discutir a dinâmica dos deslocamentos na Província moçambicana de Tete, enclave geográfico localizado entre os vizinhos Malaui, Zâmbia e Zimbábue. Por ser atravessada pelo grandioso rio Zambeze, acesso natural da costa Índica ao interior do continente africano, a região de Tete foi palco de intensas trocas entre comerciantes árabes vindos do golfo pérsico a partir do século XII e com os portugueses a partir do século XVI. Dessa interação, surgiram potentados arabizados, além de instituições como os Estados Secundários caracterizados pelo poder de famílias muzungus ou afro-portuguesas. A escravização, as disputas entre Estados e a invasão dos nguni vindos do sul criaram grandes vazios demográficos em Tete, mas foi a partir da ocupação efetiva no início do século XX, com o arrendamento de grande parte do território às companhias concessionárias, que os deslocamentos passaram a ser enquadrados e controlados para facilitar a cobrança de impostos e permitir o recrutamento do trabalho forçado dos indígenas, categorizados até 1961 como não civilizados. Tais elementos incentivaram o refúgio para os países vizinhos, assinalando um persistente ciclo de deslocamento não desejado, a qual grande parte da população de Tete foi submetida, especialmente com o advento dos aldeamentos coloniais. Através da reordenação do habitat tradicional disperso, esses espaços extremamente militarizados e arquitetonicamente geométricos ofertavam um "desenvolvimento comunitário" a fim de "conquistar a adesão das populações" para o lado português da guerra, impedindo o apoio aos nacionalistas. Após a independência, o modelo de socialização do campo empregado nas aldeias comunais, retilineamente organizadas em talhões residenciais tal qual os aldeamentos portugueses, previu a transformação do Homem Novo moçambicano, que abandonaria elementos considerados retrógrados, como o modo de vida disperso, a poligamia, o curandeirismo e a produção familiar não produtora de excedentes. Atualmente, mais uma vez, milhares de famílias de Tete são novamente obrigadas a deixar seu habitat, aqui entendido como espaço social, para viver nos reassentamentos dos megaprojetos de exploração de carvão, cujos traços arquitetônicos e promessas de melhora na qualidade de vida podem, facilmente, ser confundidos com os projetos de deslocamento do colonialismo e do socialismo moçambicanos. Portanto, esta tese aponta para uma sistemática persistência de projetos de deslocamento não voluntario em Tete, colocados em prática desde o período tardo colonial (1961-1974) até os dias atuais. Mas, ao mesmo tempo, argumenta, através de fontes documentais e de narrativas de pessoas comuns de Tete, que, apesar da persistência da história, os projetos pessoais de deslocamento, a fuga, a recusa, a sabotagem e outros não permitem falar em simples continuidade, como se a história fosse cíclica e não formada por rupturas diversas Abstract: This thesis aims to discuss the dynamics of displacement in the Mozambican province of Tete, a geographical enclave located between neighboring Malawi, Zambia and Zimbabwe. Being crossed by the great Zambezi river, natural access from the Indica coast to the interior of the African continent, the region of Tete was the scene of intense trades among Arab merchants coming from the Persian Gulf from the twelfth century and the Portuguese from the sixteenth century . From this interaction Arabized potentates emerged, as well as institutions such as the Secondary States characterized by the power of Muzungus or Afro-Portuguese families. Slavery, disputes between states and the invasion of the Nguni from the south created large population voids in Tete, but it was from the effective occupation at the beginning of the twentieth century with the leasehold of a large part of the territory to the concessionary companies, displacements started being regulated and controlled to facilitate the collection of taxes and allow the recruitment of forced labor of the natives, categorized as uncivilized until 1961. These elements encouraged the refuge to the neighboring countries signaling a persistent cycle of undesired displacement, which great part of the population of Tete was submitted, especially with the advent of the colonial settlements. Through the reordering of the dispersed traditional habitat, these extremely militarized and architecturally geometric spaces provided a "community development" in order to "win the adhesion of the populations" to the Portuguese side of the war, preventing the support of the nationalists. After independence, the model of socialization of the countryside used in communal villages, rectilinearly organized in residential stands, such as the Portuguese settlements, provided for the transformation of the Mozambican New Man who would abandon elements considered retrograde, such as the dispersed way of life, polygamy, witch doctoring and family production that does not produce surpluses. Today, once again, thousands of Tete families are once again forced to leave their habitat, here understood as a social space, to live in the resettlements of the coal exploration megaprojects, of which architectural traits and promises of improvement in the quality of life can easily, be confused with the displacement projects of Mozambican colonialism and socialism. Therefore, this thesis points to a systematic persistence of projects of non-voluntary displacement in Tete, put into practice from the late colonial period (1961-1974) to the present day. But at the same time it argues through documentary sources and narratives of ordinary Tete people that despite the persistence of history, personal projects of displacement, flight, refusal, sabotage and others do not allow to speak in simple continuity, as if the story was cyclical and not formed by diverse ruptures Doutorado Antropologia Social Doutora em Antropologia Social 2013/02176-9 FAPESP
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