dc.description | O guineense, formado a partir do contato entre o português e línguas africanas, é a língua mais falada na Guiné-Bissau. Tendo em conta que ele tem o português como a língua lexificadora, o presente estudo propõe-se a investigar alguns processos fonológicos mais frequentes ocorridos na adaptação dos empréstimos do português para o guineense; assim como entender os fatores que contribuíram para a ocorrência de tais transformações. O estudo parte da hipótese de que essas adaptações não se deram aleatoriamente, mas, sim, de forma regular, isto é, de acordo com as regras e restrições do guineense. Para a constituição do corpus do trabalho, serviu-se do Disionariu guinensi-purtuguis (SCANTAMBURLO, 2002), donde foram retirados cento e cinquenta e sete itens lexicais que passaram por adaptação. Em seguida, realizaram-se, isoladamente, gravações, com falantes do guineense, dos referidos itens; assim como de cinco sentenças em que os mesmos itens estiveram envolvidos, visando atestar as suas formas no guineense atual em um contexto de frase. Foram gravados, ao todo, oito informantes (dois para cada palavra), sendo quatro homens e quatro mulheres, entre egressos e atuais estudantes do curso de Letras – Língua Portuguesa da Unilab, Campus dos Malês (Ba). Na sequência da coleta de dados, foram identificados os seguintes processos fonológicos: aférese, síncope, apócope, prótese, epêntese, monotongação, betacismo, africativização, ensurdecimento e metátese. Para a fundamentação teórica, a pesquisa serviu-se das Teorias de Restrições e Estratégias de Reparos (TCRS), proposta por Paradis (1996) e Paradis & LaCharité (1997), que se focaliza em regras e restrições da L1; e é uma das teorias discutidas por Bandeira (2013). Com a análise dos dados, chegou-se à conclusão de que o guineense dispõe de restrições gramaticais próprias, assim como as demais línguas naturais, podendo destacar, entre as restrições, a de apagamento do [] na coda final das palavras verbais, por exemplo: comer > kume [ˈkume], buscar > buska [ˈbuska], curtir > kurti [ˈkuɾti]; enquanto este segmento se realiza na mesma posição nas palavras nominais, como é caso de: poder > puder [puˈdeɾ], mulher > mindjer [miɲˈdʒeɾ], calor > kalur [kaˈluɾ]. Além disso, constatou-se que, no guineense, há alofonias de alguns segmentos consonantais; é o caso das fricativas [z] e [s], que se alternam nas palavras mesa > mesa ou meza [ˈmesa] ou [ˈmeza] e rapazinho > rapasinhu ou rapazinhu [ɾapaˈsiɲu] ou [ɾapaˈziɲu]. Esse fato pode ser explicado pela entrada no sistema fonológico do guineense de segmentos como: [z v ʒ ʃ ʎ], que, segundo Costa (2014), se encontravam excluídos do inventário do guineense mais antigo; mas que agora fazem parte da língua. | |