dc.description | A partir de uma pesquisa de caráter descritivo com técnicos civis russos e técnicos
militares brasileiros do projeto entre o governo brasileiro e a empresa estatal russa
Rosoboronexport, este trabalho procura descrever o processo de convivência e trabalho
nessa equipe internacional, que envolveu a resistência natural ao diferente, ao
“outro”. Esta pesquisa, bibliográfica e de campo, com abordagem qualitativa, utilizou
como instrumentos de coleta de dados a observação em campo e entrevistas gravadas,
aplicadas com questionários fixos. Partindo das imagens captadas nas entrevistas
e analisadas, que foram formadas acerca do outro-estrangeiro, discute-se sobre
as condições e contextos em que foram produzidos os discursos dos participantes
da pesquisa. Também, explicita-se a noção de cultura e de alteridade, no entrelaçamento
com a ideologia que sempre se materializa na linguagem. Os objetivos específicos
foram verificar qual a imagem que se formou sobre o estrangeiro russo e brasileiro;
verificar quais discursos sobre o estrangeiro foram formados; deduzir quais
as diferenças culturais que influenciaram na formação do relacionamento. O núcleo
teórico que deu base para realizar tais propostas foi formado pelos estudos culturais
e estudos discursivos, assim como o instrumental de análise. Para sustentar os argumentos,
destaca-se as perspectivas de cultura (BAUMAN [1925] 2012; ELIOTT,
1988; GEERTZ, [1926], 2008; GUARESCHI, 2013); da identidade e diferença (SILVA,
HALL, WOODWARD, 2014; TASSO, 2005); a alteridade na cultura, o “outro” na
sociedade (BRAWERMAN-ALBINI, 2013; CHARAUDEAU, 2015; CORACINI, 2013;
SKLIAR & DUSCHATZKY, 2000); de análise do discurso e ideologia (ALTHUSSER,1985;
FERNANDES, 2005; GABLER, 2011; ORLANDI 2006, 2010, 2012a,
2013; PÊCHEUX, 2009, 1975, 1997b, 1988, [1969] 1997). A partir da análise das
imagens e dos discursos que acompanharam a formação dessas imagens, confirmou-se
que os dizeres dos participantes desta pesquisa estão carregados de conceitos
pré-existentes, pré-estabelecidos na memória discursiva, influenciada pelos
discursos circulantes na sociedade que formam, ideologicamente, o imaginário do
sujeito. Além disso, os enunciados evidenciaram atitudes contraditórias de rejeição e
admiração, avaliação positiva e negativa, identificação com o outro ou receio de assemelhar-se.
Desse modo, com a comprovação da resistência ao contato com o outro,
da falta de interesse para conhecer a cultura ou a língua do outro, português ou
russo, confirmou-se a hipótese de vinculação dessa falta de interesse à dificuldade
do encontro proporcionado no trabalho em conjunto no projeto, com o outroestrangeiro. | |