dc.description | A migração haitiana para o Brasil tem-se convertido, nos últimos oito anos, em um
dos maiores fluxos de migrantes em território brasileiro. A partir de 2010 surgiram as
primeiras comunidades haitianas em algumas partes do país. Na região Norte, com
acesso ao território brasileiro através da tríplice fronteira (Brasil, Colômbia e Perú),
muitas comunidades de haitianos têm-se formado. Nessas comunidades os
migrantes podem viver e estar em contato mais direto com a sua cultura, língua, a
família, bem como de outros relacionados que ficaram em seu país de origem. A sua
transnacionalidade é expressa em vários aspectos que também marcam a sua
identidade, tanto no Haiti quanto na diáspora. Entre essas marcas estão a
religiosidade e a língua, dois fatores com fortes relações entre si e que conectam o
povo haitiano e seu país, o Haiti. Este trabalho teve como objetivo verificar de que
modo a mobilidade e as características da diáspora impactam a religiosidade desses
migrantes haitianos residentes na cidade de Porto Velho, capital do estado de
Rondônia, Brasil. A pesquisa foi realizada através da observação etnográfica
durante um período, não contínuo, de três anos. A observação em campo foi
auxiliada por entrevistas semiestruturadas realizadas para um grupo de quarenta e
três haitianos, durante um período de cento e cinquenta dias (cinco meses), entre
janeiro a junho de 2016. Os dados mostraram que alguns fatores atuam como
condicionantes da religiosidade. Entre eles, os fatores trabalho, língua, geografia e
família. Alguns migrantes declararam receber impacto desfavorável à sua
religiosidade enquanto para outros, os impactos da diáspora foram favoráveis. Esses
impactos impulsionaram deslocamentos entre denominações religiosas e também
desencadearam mobilidades entre os três aspectos/níveis de religiosidade,
nomeadamente: crer (believing), comportar (behaving), e pertencer (belonging). Uma
parte dos entrevistados deslocou-se no sentido de uma religiosidade da esfera
exclusivamente individual para o nível do ‘pertencer’ a um grupo religioso enquanto
outros, por outro lado, deslocaram-se no sentido inverso, do nível ‘pertencer’ para
uma religiosidade apenas individual (crer). | |