dc.creatorFundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
dc.date2017-07-24T14:43:53Z
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dc.date2009
dc.date.accessioned2023-09-27T00:07:33Z
dc.date.available2023-09-27T00:07:33Z
dc.identifierRADIS: Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP, n. 80, abr. 2009. 24 p. Mensal.
dc.identifierhttps://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/20271
dc.identifier.urihttps://repositorioslatinoamericanos.uchile.cl/handle/2250/8897684
dc.descriptionO contorno do mapa motivou o apelido “Cabeça de Cachorro”. Na região que abrange os municípios mais extremos a noroeste do Brasil — Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira —, a presença militar é intensa, pela proximidade com a Colômbia (narcotráfico e guerrilha) e a Venezuela. Mas o clima de alerta no pelotão avançado da tríplice fronteira é apenas um detalhe no relato do resgate de doentes em comunidades ribeirinhas, em que a protagonista é uma comprometida técnica em enfermagem indígena do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), do Alto Rio Negro, que sonha formar-se em Biomedicina. Esta e outras histórias pessoais e coletivas permeiam em tom de crônica a matéria assinada por Adriano De Lavor.É notável o cuidado e a qualidade com que está sendo construído o primeiro curso para agentes indígenas de saúde, que, havendo o necessário apoio de governos e instituições, concluirá em quatro anos a formação técnica em saúde e escolar de nível médio dos cerca de 250 agentes em atividade nos três municípios de abrangência do Dsei. A “cabeça dos professores” não para. Em aula, na orientação de trabalhos e em reuniões noturnas de avaliação, a idéia é que o curso assegure sólida formação em saúde coletiva vinculada a cultura, território, políticas públicas, informação, educação, comunicação e planejamento, sempre acolhendo e valorizando o conhecimento tradicional indígena.“Cabeça de índio” é diferente. Dos brancos é claro, mas também entre eles. Cada etnia tem suas referências, desde a explicação da origem do mundo até os hábitos mais triviais. Um momento interessante de observar os modos diversos de ver e representar o território foi durante a produção de mapas das comunidades em que os agentes atuam. Algumas equipes valorizaram os espaços coletivos, outras as áreas das casas e dos igarapés e todos identificaram os locais essenciais para caça, coleta e produção de alimentos, assim como os pontos que representam zonas de risco à saúde. Impressionante o grau de detalhamento dos mapas e também a humildade em apresentá-los como inacabados. Como a determinação das doenças, segundo a tradição dessas etnias, inclui “vingança” de espíritos motivadas por desarmonia entre os homens ou entre eles e a natureza, um mapa que retrate tais subjetividades e transcendências segue como um desafio para o curso.Cartografia é poder. Produzir os próprios mapas representa um instrumento importante para as comunidades indígenas se expressarem discursivamente, assim como para utilizá-los em suas negociações com o poder público. Mapas podem ser traiçoeiros também. À revelia deles, os portugueses se apossaram das terras declaradas espanholas e, em nome deles, tentaram se apossar da “cabeça do índio” e aniquilar sua cultura. Daquele que primeiro confrontou a lógica do genocídio — o Marechal Rondon — resta, no entorno do pelotão do Exército, em Cucuí, desbotada placa de madeira com o nome de uma rua de terra em que convivem uma igreja adventista, outra católica e um bar que para diversões noturnas. Na região da Cabeça do Cachorro já houve cobiça por madeira e mineração, mas o movimento indígena organizado conquistou, há 10 anos, a demarcação das terras dos antepassados. Agora, retomam suas línguas e tradições. O novo desafio é dar sustentabilidade às comunidades, com alimento, saúde e educação, para que os índios deixem de migrar para as cidades, onde tendem a perder sua identidade. Na “cabeça dos repórteres”, a pauta era ótima, mas qualquer desencontro na logística (como a briga para entrar no único voo que nos levaria a São Gabriel) poderia colocar a matéria em risco. Após três horas subindo o Negro numa voadeira, sob um temporal que encharcava até os ossos, surgiu o receio de voltar sem imagens e a máquina fotográfica teve que funcionar num saco plástico. Felizmente, veio o sol trazendo as cores. Em Vila Nova, um conforto incomum. Poucos mosquitos e com hora marcada, confortáveis redes numa sala de aula, temperatura amena à noite, comida familiar e bem feita, gerador, água potável e gelada, além de eventuais garrafas do adocicado e agradável guaraná Baré desautorizam queixas de sacrifício além do inevitável dolorido pela trepidação das voadeiras. Numa reportagem, além de certa ansiedade até garantir a boa matéria, a “cabeça do repórter” se ocupa em buscar o sentido humano que subverta o manual do distanciamento e objetivação dos fatos. Foi assim que o fotógrafo se rendeu à beleza das crianças e das paisagens e o repórter encontrou, naquelas pessoas, o que ele gostaria de ser. Desejo ao leitor que venha sentir-se também, pelo menos por algum tempo, envolvido pelos “parentes” (como eles dizem) do Alto Rio Negro. Em tempo: VIVA RAPOSA SERRA DO SOL! Rogério Lannes Rocha Coordenador do Programa RADIS
dc.formatapplication/pdf
dc.languagepor
dc.publisherFundação Oswaldo Cruz/ENSP
dc.rightsopen access
dc.titleRADIS - Número 80 - Abril
dc.typePeriodical


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