dc.description.abstract | Mais uma vez Radis entra no cotidiano de aldeias indígenas para falar sobre saúde, não apenas indígena, mas daquela que decorre do modelo de desenvolvimento que se adota neste país e das consequências da dominação de um modelo civilizacional sobre outro, do desequilíbrio entre valores de diferentes etnias. O trabalho de pesquisadores da Fiocruz e, principalmente, o interesse dos valentes xavante em entender a determinação das doenças que atingem seu povo, além da obstinação em manter práticas saudáveis de sua cultura, são o assunto de nossa matéria de capa.
A disputa por hegemonia — discursiva, cultural, de poder — é da própria essência da democracia. Nessa disputa franca reside a estratégia da Reforma Sanitária brasileira, para que a compreensão do que seja saúde mude; e do que seja um sistema universal e equânime de atenção à saúde, defendido por toda a população como um direito, tenha significância. O problema é quando a hegemonia se traduz em dominação.
Disputar o lugar da produção dos sentidos, da construção de alternativas e escolhas, de ser ouvido e levado em conta na definição de rumos é uma legítima aspiração individual e coletiva nas sociedades. Bom que no pós-Segunda Guerra Mundial a hegemonia tenha sido a do multilateralismo, dos direitos humanos. Bom que os anos 1960 tenham sido marcados pela luta por direitos civis, igualdade entre raças ou etnias, homens e mulheres. Como em outros tempos, o antiescravagismo e o anticolonialismo. Respiros numa longa tradição de barbárie na história da humanidade, expressa mais recentemente no discurso único do neoliberalismo dos anos 1990, do unilateralismo norte-americano dos anos 2000.
No Brasil, a hegemonia do momento é a da despolitização da atividade partidária, dos processos eleitorais e até dos movimentos sociais — mais ainda, da visão que se tem destes, desqualificados pela mídia e pela criminalização do exercício de cidadania. Em parte, triunfo tardio da quase esquecida ditadura militar que, nos anos 1970, impôs a monocultura agrícola e alimentar do arroz e expropriou terra de incautos e nômades xavante. Hoje, o agronegócio exportador, turbinado por agrotóxicos, transgênicos e mais dinheiro público, terraplanam bio e sociodiversidade.
A hegemonia da cooperação é o tema da entrevista exclusiva com o vice-presidente do Comitê Executivo da Organização Mundial da Saúde, Paulo Buss. Se não há fronteiras para as doenças, metas como redução de desigualdades e mais qualidade de vida e saúde para todos podem ser trabalhadas como eixo da diplomacia e da cooperação Sul-Norte e Sul-Sul, enfrentando origens e efeitos da dominação econômica e política existente no planeta.
Em seminário interno, preparatório do 6º Congresso da Fiocruz, especialistas da fundação debateram com teóricos de outras instituições as interações da comunicação com a educação. A ideia é ir além do uso de uma pela outra e incorporar na estrutura de cada campo os conceitos e contribuições do outro. A equipe do RADIS, presente nesses debates, busca traduzir em suas práticas o compromisso com a participação social que defende. O conhecimento técnico-científico e o popular — leia a seção Toques da Redação (pág. 7), sobre quadro do programa Fantástico, da Rede Globo — devem se reconhecer e se respeitar em suas qualidades.
Rogério Lannes Rocha Coordenador do Programa RADIS | |