Médicos do sertão: pesquisa clínica, patologias regionais e institucionalização da medicina em Goiás (1947-1960)

Abstract

Na tese, analiso o processo de institucionalização da medicina goiana tomando por base as instituições criadas pelos médicos atuantes em Goiás ou nas quais se envolveram de forma efetiva. Neste sentido, meu recorte temporal vai de 1947 até 1960, abrangendo a realização dos Congressos Médicos do Triângulo Mineiro e Brasil Central, a fundação da Associação Médica de Goiás, a criação da Revista Goiana de Medicina e a inauguração da Faculdade de Medicina de Goiás. A partir destes eventos e instituições, identifico os múltiplos círculos – profissionais e pessoais – nos quais os médicos goianos estiveram imbricados e os mecanismos e estratégias de que se valeram para consolidar um campo de pesquisas centrado nas patologias regionais. Tendo em vista que a região se apresentava como um campo privilegiado de estudos das ‘endemias rurais’ – consideradas grandes entraves ao desenvolvimento do Brasil em meados do século XX – a especialização destes médicos nestas enfermidades, em especial na doença de Chagas, interferiu positivamente sobre o processo de institucionalização analisado, fortalecendo-o. Através das redes que conseguiram construir com colegas atuantes em regiões de maior prestígio, fomentadas pela originalidade das investigações clínicas que desenvolviam localmente, os goianos ganharam notoriedade em âmbitos nacional e internacional e consolidaram-se como grupo importante. Enfatizando a trajetória bem-sucedida desses médicos, este trabalho se situa na interseção entre os estudos de História da Ciência e da Medicina e os estudos de História Regional.