dc.description.abstract | Texto em português "feminicídio íntimo" (CARDEDO, 2002) é um problema histórico que no Brasil é causa da maioria das mortes violentas de mulheres, sendo Goiás o terceiro estado no ranking desses assassinatos. Mesmo com a comprovação de que este é um problema grave, de Saúde Pública, e resultante de um ciclo de outras violências, ainda assim é invisibilizado e naturalizado por diversas instâncias sociais, entre elas a mídia. Noticiando esse tipo de crime estão os jornais populares, como o "Daqui", um tabloide goiano com tiragem diária de 189 mil exemplares, sendo a maioria dos leitores (51%) mulheres, entre 20 a 39 anos, provenientes, sobretudo, da classe C, coincidindo com a estimativa do público que sofre feminicídio no país. O objetivo desta pesquisa foi analisar as notícias sobre assassinatos e tentativas de assassinatos a mulheres, cujos autores ou acusados eram parceiros, ou ex-parceiros íntimos das vítimas, caracterizando, assim, o perfil das vítimas e agressores, que possibilitou a análise do discurso social da produção dessas notícias jornalísticas a respeito desse tipo de crime. Entre março de 2015 (mês que a Lei do Feminicídio entrou em vigor) a junho de 2016, foram encontradas 121 veiculações se enquadram como feminicídios íntimos e tentativas de feminicídio. Para analisar como estes fatos eram relatados pelo veículo de comunicação, realizou-se a análise do discurso crítica (FAIRCLOUGH, 2003) e análise do discurso das mídias (CHARAUDEAU, 2015), alicerçadas por estudos multidisciplinares baseados especialmente na saúde coletiva, sociologia, comunicação e, teorias feministas. A partir das análises foi constatado que o jornal não categoriza o feminicídio íntimo como tal, mas o representa como crime passional. Foi possível traçar um perfil das vítimas, autores, o que falam as fontes jornalísticas. A análise contribui para a compreensão de como as fontes e a mídia auxiliam na perpetração da "dominação masculina" (BOURDIEU, 2002), através de um discurso que legitima - ou naturaliza - o feminicídio íntimo, não o reconhecendo como um crime de gênero, bem como fortalecendo estereótipos dos atores sociais envolvidos. Através da pesquisa concluímos que ainda existem lacunas substanciais na cobertura do feminicídio íntimo na mídia e ressaltamos a necessidade de maior debate sobre o tema em diversas esferas sociais. | |