dc.description.abstract | Diversos organismos apresentam variações no comportamento e
na fisiologia que são controladas por um relógio biológico interno. O
flebotomíneo Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae), o principal
vetor da leishmaniose visceral nas Américas, é um inseto hematófago
com atividade crepuscular/noturna. A hematofagia, crítica na
transmissão da doença, está restrita a uma determinada hora do dia,
certamente conseqüência do controle do marcapasso circadiano.
Apesar da importância dos ritmos circadianos na dinâmica da
transmissão da doença, pouco se sabe sobre seu controle molecular em
insetos vetores. Neste trabalho descrevemos algumas propriedades do
relógio circadiano de L. longipalpis. Comparado a Drosophila
melanogaster, os genes period (per) e timeless (tim), dois elementos
negativos da retroalimentação negativa, apresentam padrão similar de
expressao de RNAm. Por outro lado, a expressão de Clock (Clk) e cycle
(cyc), dois elemetos positivos, diferem entre as duas espécies, sugerindo
que as diferenças de fase de suas expressões possam estar associadas
às diferenças observadas no ritmo de atividade circadiana. Além disso,
nós observamos uma redução da atividade locomotora após o repasto
sanguíneo, que é correlacionada com uma diminuição dos níveis de
expressão de per and tim.
Apesar de muitos aspectos do marcapasso molecular serem
conservados em animais, algumas diferencas entre L. longipalpis e D.
melanogaster sugeriram que o relógio circadiano de moscas de fruta
divergiu bastante durante a evolução. Por exemplo, enquanto em
moscas o domínio de transativação do elemento positivo reside em CLK,
em L. longipalpis e todos outros animais analisados até o momento ele
fica em CYC. Dessa forma, parece que durante o processo evolutivo
houve uma transferência funcional do domínio de transativação de CLK
para CYC na linhagem de Drosophila.
Para elucidar a evolução funcional do relógio circadiano de
Drosophila nós testamos a hipótese de que CLK e CYC tenham trocado o
domínio de transativação durante a evolução. Nossos estudos revelaram
que o relógio de Drosophila pode funcionar da mesma maneira que o de
mamíferos e que CRYPTOCHROME, além do seu papel bem descrito na
fotorecepção, pode ter tido um papel ancestral no mecanismo molecular
do marcapasso de Drosophila. | |