dc.description.abstract | A intolerância está na origem e é sintoma da barbárie. Encontra terreno fértil no conservadorismo e visões reacionárias que ganham hegemonia no mundo de hoje. Mas também em qualquer ambiente em que pessoas, instituições ou grupos sociais, religiosos e políticos se julguem donos da verdade ou melhores do que os demais. É fruto da combinação de ignorância com arrogância, de se supor certo mesmo imerso na desinformação. Intolerância afeta diretamente a saúde das pessoas e é um problema que diz respeito ao Estado e a toda a sociedade.
O monoteísmo, a concepção de “povo escolhido” e a determinação de impor a própria religião aos demais indivíduos e povos foi e é responsável por momentos de dominação, extermínio e crueldade na história da humanidade. O mesmo ocorre em função da assimetria de poder entre etnias e o que se convencionou chamar de raças. A iniquidade na relação entre gêneros e a imposição de padrões de comportamento tolhem, com diferentes graus de violência, a diversidade sexual e a existência e a liberdade das mulheres em todo o planeta. Na política, o sectarismo é inimigo de diálogo e democracia.
O Brasil é tão diverso, quanto permeado de preconceito e intolerância. Pesquisa sobre diversidade sexual e homofobia, divulgada pela USP em 2008, detectou que o preconceito no país contra a população LGBT só é menor que o existente contra ateus e usuários de drogas. Para conhecer a violência dos donos da verdade, no entanto, basta que alguém cultue outros deuses; que a mulher queira ser dona do próprio pensamento, corpo, ou carreira profissional; que o indivíduo deseje descobrir livremente sua sexualidade; que o jovem seja negro e pobre.
A matéria de capa faz uma reflexão sobre as dimensões da intolerância e encontra, não na simples tolerância, mas na liberdade para o exercício de direitos e no respeito à diversidade um antídoto. O respeito é uma opção, uma postura deliberada que permite o encontro dialógico com o Outro, como defendia o filósofo Martin Buber, cuidar e ser cuidado, como insiste o teólogo Leonardo Boff.
Nesta edição, a barbárie implícita reaparece em análises sobre a violência contra a mulher e sobre os projetos que visam reduzir a maioridade penal, ampliar de forma irrestrita as terceirizações e criminalizar pessoas com o vírus HIV.
Felizmente, o oposto surge nas cartas entusiasmadas dos leitores e nas notícias de defesa e luta por direitos. Índios se manifestam em Brasília contra mudança na Constituição, Instituto do Câncer condena uso de agrotóxicos, médicos estrangeiros ajudam a reduzir mortalidade infantil no interior, marco legal da biodiversidade e a Lei da pessoa com deficiência avançam no Senado, jovens feministas se mobilizam na internet, nomes de ditadores e torturadores são substituídos em logradouros públicos, usuários e trabalhadores do SUS se organizam para a 15ª Conferência Nacional de Saúde. | |