dc.description.abstract | Introdução: No Brasil, a utilização dos agrotóxicos é extremamente relevante no modelo de desenvolvimento do setor agrícola, em consequência disso, o país é hoje o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Grande parte destes agentes apresenta capacidade de desregulação do sistema endócrino humano, resultando em alterações nos níveis de hormônios sexuais, causando efeitos adversos, principalmente sobre o sistema reprodutivo, tais como, câncer de
mama e ovário, desregulação de ciclo menstrual, câncer de testículo e próstata, infertilidade, declínio da qualidade seminal e malformação de órgãos reprodutivos. Objetivos: Avaliar a exposição aos agrotóxicos em adultos moradores na área rural do município de Farroupilha, RS, e os possíveis impactos desta exposição nos níveis de hormônios reprodutivos de homens e mulheres e na qualidade do sêmen de adultos jovens. Metodologia: Para atender a estes objetivos gerais, foram realizados dois estudos transversais, com objetivos específicos,
populações e metodologias de coleta particulares. No estudo um, foram investigados adultos de ambos os sexos, trabalhadores rurais e seus familiares, com idades compreendidas entre 18 e 69 anos, residentes na área rural do município de Farroupilha, RS. Já no estudo dois, jovens
moradores rurais e urbanos, com idade entre 18 e 23 anos participaram da investigação. Foram coletadas amostras de sangue e sêmen para mensurar níveis de atividade de colinesterases, níveis de hormônios sexuais e outros parâmetros bioquímicos, além de parâmetros espermáticos. Também foram aplicados questionários para identificar possíveis fatores associados aos desfechos reprodutivos. Resultados: No estudo um, homens com maiores níveis de exposição a agrotóxicos apresentaram aumento na concentração de testosterona de 14% (IC95%= 0,79; 109,89) e redução de LH de 20% (IC95%= -0,46; -0,06).
O hormônio SHBG apresentou associação positiva e significativa com os níveis de BChE (Exp(β)= 1,17; IC95%= 0,02; 0,17) e estar trabalhando mais de 25 anos na agricultura mostrou associação com redução de 20% (IC95%= -0,45; -0,003) nos níveis desse hormônio. O uso de organofosforados foi associado a níveis de prolactina 17% menores (IC95%= -0,34; -0,04). Já nas mulheres, ter trabalhado nos últimos 3 meses foi associado a menores níveis de prolactina (Exp(β)=0,83; IC95%= -0,77; -0,04). Na regressão logística, homens usando
agrotóxicos do grupo dos inseticidas e dos organofosforados, respectivamente, tiveram menor chance de ter a prolactina reduzida (OR=0,39; IC95%= 0,17; 0,93 para inseticidas; OR=0,39; IC95% 0,16; 0,92 para organofosforados). Da mesma forma, foi observada nas mulheres associação inversa entre contato com agrotóxicos autorreferido alto e a chance de apresentar a prolactina reduzida (OR= 0,26; IC95%= 0,09-0,71). No estudo 2, alterações nos níveis de hormônios sexuais estiveram associados com características de gestação e nascimento, com maiores níveis de exposição a agrotóxicos e com local de moradia. Quanto aos parâmetros espermáticos, motilidade foi significativamente menor nos jovens rurais do que nos urbanos (β= -8,35; IC95%= -16,09; -0,61), nos que relataram contato com agrotóxicos alto (β= -3,17; IC 95%= -5,97; -0,36) e nos que usavam fungicidas no momento da coleta (β= -3,17; IC95%= -5,97; -0,36). Morfologia mostrou-se reduzida entre 15% e 32% nos moradores rurais e com maiores contatos com agrotóxicos. Também foram observadas diferenças significativas nas medidas anatômicas sexuais quanto ao local de moradia, exposição a
agrotóxicos e características de gestação. Conclusão: Os achados são sugestivos de que exposições crônicas a agrotóxicos interferem na regulação dos hormônios sexuais em adultos, bem como na qualidade seminal dos jovens da área rural do município de Farroupilha-RS. | |