dc.description.abstract | O encantamento do historiador diante de documentos pessoais, encontrados preferencialmente em arquivos privados, tem constituído um campo de discussões e percepções históricas que trazem à cena a relação entre subjetividade e história. O interesse por objetos e fontes dantes não exploradas pela história ganham contornos mais definidos a partir da década de 1970, como afirma Christophe Prochasson. Nesse contexto, que aproxima a perspectiva histórica da pessoal acerca de um personagem, destaco o papel da correspondência pessoal. Neste trabalho pretendo apresentar e analisar a correspondência entre os etnólogos Darcy Ribeiro e Herbert Baldus, entre os anos de 1948 e 1956, com a finalidade de perceber, nesses registros, traços individuais que contribuam para a compreensão desses intelectuais em suas relações com a sociedade da época, as instituições que representavam, além da relação possível entre subjetividade e realidade. O recorte temporal dessa análise justifica-se por duas razões fundamentais, a primeira refere-se à regularidade da troca de correspondências entre Darcy Ribeiro e Herbert Baldus e a segunda por se tratar do período exato que Darcy Ribeiro atuou como etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios, sob a constante intermediação de Herbert Baldus. Destaco ainda que a regularidade das correspondências analisadas denota forte vinculo intelectual entre os personagens citados no que se refere às teorias defendidas pela antropologia norte-americana e também alemã, ambas difundidas no Brasil no período em questão, em relação à organização, tradição e costumes dos grupos indígenas brasileiros. Além de enunciar fortes laços pessoais entre os personagens citados, as correspondências analisadas apresentam importantes vestígios acerca da trajetória profissional e institucional de ambos. A partir dessas cartas, bilhetes e convites, é possível depreender significativas pistas sobre o percurso intelectual de Darcy Ribeiro e também de Herbert Baldus. O conteúdo dessa série de correspondências pode ser percebido em duas chaves distintas, uma pessoal e outra intelectual, ambas denotando uma forte estima entre as partes. Quanto ao conteúdo das correspondências há predominância de temas como: trocas de bibliografias sobre etnologia indígena, teorias e metodologias de pesquisa junto aos índios, além de indicações de pesquisadores para atuarem no campo ao lado de Darcy Ribeiro e também de Herbert Baldus. Nesse sentido ressalto que a questão central dessa análise está em compreender e qualificar a intensa troca intelectual entre os referidos cientistas sociais presentes nas correspondências analisadas. | |