dc.description.abstract | A leishmaniose tegumentar na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro tem se
caracterizado pela presença de surtos epidêmicos, restritos, articulados e circunscritos à
algumas áreas. Os estudos epidemiológicos realizados mostraram o papel dos principais
componentes do ciclo de transmissão peri-domiciliar, a distribuição desigual da
endemia dentro de um mesmo foco e a presença de um padrão espacial de lugar de
transmissão muito característico, reconhecido pela maioria dos pesquisadores da doença
naquelas áreas onde a Lu intermedia é transmissora.
Contudo, todo o conhecimento acumulado até então, não resultou na capacidade
de compreender a persistência e difusão da endemia nas áreas urbanizadas da cidade e
tampouco, de que modo, localidades muito semelhantes e próximas, com o vetor
amplamente disseminado, podem apresentar diferentes riscos para a mesma endemia.
O objetivo do presente estudo é compreender o processo endêmico-epidêmico da
leishmaniose tegumentar na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro de 1970 a 2000,
relacionando as recentes transformações no processo de ocupação urbana com aquelas
associadas ao padrão de transmissão e difusão da endemia, com o intuito de explicar a
ocorrência da doença em diferentes localidades desta cidade, e suas relações com os
determinantes de ordem mais geral.
Foi utilizado o modelo de análise do processo de ocupação e organização do
espaço urbano em diferentes escalas e unidades territoriais, considerando as novas
funções adquiridas pelos elementos espaciais expressos através de diferentes relações de
trabalho, uso do solo e valor da terra.
Foram empregadas técnicas de geoprocessamento e de classificação de imagens
obtidas por sensoreamento remoto, além de metodologias qualitativas relacionadas à
recuperação histórica dos processos de ocupação e uso do solo.
A incorporação dos instrumentos de geoprocessamento, combinados às técnicas
qualitativas de investigação, possibilitou evidenciar distintas condições de transmissão
nas localidades estudadas além de diferentes áreas de transição ou ecótonos.
O ecótono rural-florestal, no qual a presença de comunidades rurais em
condições de vida precárias e baixa produtividade garantem a persistência e difusão da
endemia; O ecótono urbano-florestal, em que ainda existem áreas de agricultura
residual além da presença de uma área urbana consolidada, ocorrendo uma transmissão
intermediária; e uma variação do ecótono urbano-florestal, na qual o processo de
reorganização do espaço urbano encontra-se completamente consolidado desde a década
de noventa , sem registro de doentes desde 1994, embora com o vetor presente.
O estudo demonstrou também que as técnicas empregadas foram muito úteis
para identificar áreas com distintas condições de receptividade à enfermidade,
possibilitando o monitoramento da endemia, assim como a aplicação de medidas
eficazes para as ações de vigilância e controle da leishmaniose tegumentar na cidade do
Rio de Janeiro. | |