dc.description.abstract | O estudo das práticas alimentares ultrapassa a questão meramente nutricional, ele é um sistema complexo, em que diversos fatores são responsáveis pela escolha dos alimentos, entre eles, a disponibilidade, preferências, conhecimento nutricional e fatores sociais e culturais. O objetivo deste estudo é descrever e analisar as práticas alimentares de doze mulheres, sendo seis gestantes e seis lactantes que vivem nas comunidades ribeirinhas localizadas ao longo da margem esquerda do Rio Negro, no município de Manaus. Essas mulheres foram identificadas por intermédio dos Agentes Comunitários de Saúde de duas comunidades ribeirinhas, escolhidas pelas peculiaridades quanto ao acesso à área urbana. Uma dessas comunidades é mais distante da capital (Manaus) e próxima da sede de um município menor (Novo Airão), situado na margem direita do Rio Negro, enquanto a outra encontra-se à igual distância da sede de cada um dos dois municípios. Foram realizadas: 1 - entrevistas com gestantes, lactantes e pessoas consideradas importantes nas escolhas alimentares, como mães e parteiras, 2 - observação participante das práticas das gestantes e lactantes relacionadas à alimentação, desde atividades ligadas ao cultivo, plantação e pesca, até a escolha, preparo e consumo dos alimentos e 3 - um grupo focal com os profissionais que atuam na Unidade Básica de Saúde Fluvial que atendem essa população a fim de confrontar a fala desses profissionais com as vivências e relatos das mulheres pesquisadas. A partir da análise de conteúdo de Bardin identificamos quatro eixos temáticos: Do pescado com farinha ao ultraprocessado; O desejo de comer versus a dificuldade de obtenção; Saberes e restrições alimentares no período gravídico-puerperal, e Alimentos como remédios. A dieta básica dessas mulheres é constituída pelo binômio peixe e farinha, sendo modificada em função da estação diretamente ligada à cheia/seca dos cursos de água. No período da cheia, há o aumento do consumo de alimentos processados e ultraprocessados, devido à escassez de alimentos locais como o pescado. Baseados em saberes tradicionais, os conselhos dados por familiares, parteiras e profissionais da saúde em torno do período da gestação e lactação restringem o acesso à determinados alimentos e/ou permeiam a procura por alimentos de difícil obtenção. A compreensão dessas práticas alimentares e das percepções dos profissionais sobre a alimentação dessa população, deve levar à melhor adequação das recomendações feitas pelos profissionais e consequentemente das políticas públicas para as populações ribeirinhas. | |