dc.description.abstract | Objetivo: Mais da metade da população brasileira encontra-se acima do peso normal, e as prevalências
de obesidade e de sobrepeso continuam subindo, especialmente nas populações urbanas de baixo nível
socioeconômico. Embora o governo tenha começado a montar uma resposta, incluindo programas
especificamente destinados à melhoria da saúde dos funcionários nos ambientes de trabalho, o papel da
dinâmica social entre funcionários na ganha e perda de peso ainda é pouco entendido. Através de uma
análise da distribuição dos índices de massa corporal (IMCs) em uma rede social de funcionários
públicos, este estudo tem como objetivo iniciar uma discussão sobre como as amizades podem afetar os
pesos dos trabalhadores de meia idade no Brasil.
Métodos: Entre 2010 e 2012, 1.521 funcionários públicos, empregados pela Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), com base no Rio de Janeiro, foram convidados a nomear, como parte do questionário da
segunda onda do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), os seus cinco amigos mais
próximos no trabalho. Aonde possível, nomes citados foram ligados a nomes oficiais no diretório de
funcionários da Fiocruz com a ajuda de um programa de relacionamento probabilístico de registros. As
amizades entre os participantes do ELSA definiram as conexões no ELSA-RioSC, uma rede social
sócio-cêntrica dos participantes da segunda onda do estudo de coorte. As relações entre o IMC de um
indivíduo, a sua posição social no ELSA-RioSC, e os IMCs dos seus amigos foram avaliadas através da
modelagem Gaussiana latente, controlando por idade, renda familiar mensal per capita, e nível de
educação, com dados estratificados por sexo. Um modelo de grafo aleatório exponencial (ERGM, pelo
termo em inglês, “exponential random graph model”) foi desenvolvido para testar se uma semelhança
no IMC de dois indivíduos afeta a probabilidade destes indivíduos formarem uma amizade, controlando
por fatores exógenos e endógenos.
Resultados:ELSA-RioSC foi composta por 1.973 amizades, e 332 dos 1.521 membros do grafo foram
isolados (não conectados por uma amizade a nenhum outro indivíduo). Entre os membros, 69,4%
estavam acima do peso normal (IMC≥25kg/m2
) com 28,2% considerados obesos (IMC≥30kg/m2
). Nos
dois a seis anos entre a primeira e a segunda onda do ELSA, os IMCs dos participantes geralmente
aumentaram (em média por 0,691% anualmente). Os modelos Gaussianos latentes mostraram que, para
ambos homens e mulheres, indivíduos com nenhum amigo ou poucos amigos na média tinham maior
IMC na Onda 2 e maior ganho de peso percentual entre Onda 1 e Onda 2. O IMC seccional das
mulheres mostrou relação inversa com a educação e com a renda familiar per capita – educação mais
básica e renda menor corresponderam a um IMC maior – enquanto o IMC seccional dos homens
mostrou uma relação mais complicada com as variáveis de controle, mas uma relação direta com a
média dos IMCs dos amigos. A mudança percentual no IMC dos homens entre as Ondas 1 e 2 também
mostrou relação direta com a mudança percentual média no IMC dos seus amigos, com uma associação
especialmente significativa para perdas de peso, mas esta relação não foi observada para as mulheres
do estudo. Os resultados do ERGM indicaram que indivíduos com IMCs semelhantes não mostraram
significativamente maior propensão a serem amigos do que indivíduos com uma diferença em IMC
superior a 4 kg/m2
, mesmo antes de controlar por fatores exógenos e endógenos. Os fatores mais
significativos na escolha de amigos foram: compartilhar uma unidade de trabalho e retribuir uma
amizade unidirecional.
Conclusão: Os resultados mostram que os IMCs de homens, mas não aqueles de mulheres, estão
associados aos IMCs dos seus amigso no trabalho. Isso indica que homens modelam os seus hábitos de
comer e fazer exercício nos hábitos dos seus amigos no trabalho, selecionam amigos com hábitos
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similares aos seus, ou tendem a compartir ambientes de nutrição e exercício com seus amigos. Dados
longitudinais de amizade e de comportamento de consumo e gasto de energia ajudariam a elucidar
alguns dos mecanismos que levaram às associações observadas. | |