Avaliação das dificuldades alimentares e mastigatórias e sinais e sintomas de bruxismo em crianças com Síndrome de Down

Abstract

Down Syndrome is a condition associated to particular and specific characteristics regarding oral health and growth of orofacial structures that can directly affect dietary, nutritional and masticatory aspects. The objective of the study was to evaluate the oral and nutritional clinical characteristics, feeding and masticatory difficulties, as well as signs and symptoms of bruxism in 100 individuals with Down Syndrome aged between five and 18 years (median=12 years). According to the medical history, 59% of the participants did not have chronic diseases, while 14% had thyroid gland dysfunction and 17% had cardiovascular diseases. Delays in the chronology of eruption of permanent teeth were observed, in addition to a higher frequency of Class III molar relationship in the permanent dentition. The mean index of decayed, missing (or exfoliated) and filled teeth (dmf/DMFT) was higher according to the stage of dentition, being equal to 1.1 in the deciduous dentition and 2.5 in the permanent dentition; at 14-18 years old caries experience was 82%. Frequencies of bleeding on inspection and periodontal pockets were found in 26.5% and 10% of participants in the mixed dentition, and 77% and 45.5% in the permanent dentition, respectively. The frequencies of visible biofilm and reported teeth grinding/clenching were found to be 97-100% and 70-82% in the three dentitions. As for nutritional and dietary aspects, the frequency of children with excess weight (overweight, preobesity and obesity) increased according to age, being 39% in the age range of 5-7 years and 54% in the range of 14-18 years; 30% of the participants did not receive natural breastfeeding and the average time of bottle feeding was 29.7 months. The consumption of fresh fruit had a median=5 (every day) in all age groups, although the intake of juices, soft drinks and sausages was high and the consumption of sweets and biscuits increased with age. According to parents, most participants were classified as having no feeding difficulties (87%) and only eight children were classified as having moderate to severe difficulties. Masticatory difficulties were more frequent in the age group of 8-10 years, corresponding to the mixed dentition. Comparing with literature data obtained in typical children, delays in tooth eruption, higher frequency of Molar Class III, high levels of visible biofilm and teeth grinding or clenching were observed in children and adolescents with Down Syndrome. Furthermore, the high consumption of sweets and processed foods, the longer duration of bottle feeding and the frequency of overweight observed indicate the high risk of caries, cardiovascular and metabolic diseases to which this population is exposed.

A Síndrome de Down é uma condição que traz consigo particularidades e características específicas quanto à saúde bucal e crescimento das estruturas orofaciais que podem afetar diretamente aspectos dietéticos, nutricionais e mastigatórios. O objetivo do estudo foi avaliar as características clínicas bucais e nutricionais, dificuldades alimentares e mastigatórias, bem como sinais e sintomas de bruxismo em 100 indivíduos com Síndrome de Down e idades entre cinco e 18 anos (mediana=12 anos). De acordo com o histórico médico, 59% dos participantes não apresentavam doenças crônicas, enquanto 14% apresentavam disfunções da glândula tiroide e 17% alterações cardiovasculares. Atrasos na cronologia de irrupção dos dentes permanentes foram observados, além de maior frequência de relação molar Classe III na dentição permanente. O índice médio de dentes cariados, perdidos (ou esfoliados) e obturados (ceo/CPOD) foi maior com o avanço da dentição, sendo igual a 1,1 na dentição decídua e 2,5 na dentição permanente; aos 14-18 anos a experiência de cárie foi de 82%. Foram encontradas frequências de sangramento à inspeção e bolsas periodontais em 26,5% e 10% dos participantes na dentição mista, e 77% e 45,5% na dentição permanente, respectivamente. As frequências de biofilme visível e relato de ranger/apertar dentário foram encontradas em 97-100% e 70-82% nas três dentições. Quanto aos aspectos nutricionais e dietéticos, a frequência de crianças com excesso de peso (sobrepeso, pré-obesidade e obesidade) cresceu em função da idade, sendo de 39% na faixa de cinco a sete anos e 54% na faixa de 14-18 anos; 30% dos participantes não receberam amamentação natural e o tempo médio de aleitamento por mamadeira foi de 29,7 meses. O consumo de frutas frescas obteve mediana=5 (todos os dias) em todas as faixas de idade, embora o consumo de sucos, refrigerantes e embutidos foi elevado e o consumo de doces e biscoitos aumentou em função da idade. De acordo com os pais, a maior parte dos participantes foi classificada como tendo nenhuma dificuldade alimentar (87%) e apenas oito crianças foram classificadas como tendo dificuldade moderada a severa. As dificuldades mastigatórias foram mais frequentes na faixa etária de oito a dez anos correspondendo à dentição mista. Comparando-se com dados da literatura obtidos em crianças típicas, foram observados atrasos na irrupção dentária, maior frequência de Classe III molar, altos índices de biofilme visível e ranger ou apertar dos dentes em crianças e adolescentes com Síndrome de Down. Ainda, o alto consumo de doces e alimentos processados, maior duração do uso de mamadeira e frequência de excesso de peso observado alertam para os elevados riscos de cárie, doenças cardiovasculares e metabólicas aos quais esta população está exposta.