dc.description.abstract | O presente estudo é uma pesquisa qualitativa pela análise documental, de caráter exploratório-investigativo, por meio do referencial metodológico da análise de conteúdo, que buscou analisar os dados dos prontuários dos pacientes negros de todos os gêneros e idades internados no Juquery entre 1905 e 1956, com vistas aos dados de motivo de internação, histórico, período, alta e tratamento recebido, com o objetivo de conhecer, do ponto de vista científico-ideológico, assistência terapêutica praticada aos pacientes negros internados no hospício, alicerçado na determinação sócio-política-histórica. Sujeitos participantes: negros internados no Juquery no período de 1905 a 1956. Critério de inclusão: ser da etnia negra, ter estado internado no Juquery na época escolhida para análise. Pesquisas dessa esfera devem ser realizadas para a manutenção viva da história e trazer à luz dados desconhecidos que nos farão entender a evolução da história da assistência psiquiátrica brasileira. A atenção dada aos negros em específico decorre da tematização e problematização deste enquanto alvo de violência desde abolição da escravatura. Foram analisados 89 prontuários de pacientes negros do hospício do Juquery de 1905 a 1956, no qual as informações coletadas, apesar de 43 prontuários não terem registros de todo o processo, apontam para a maioria ser brasileiro, do sexo masculino, faixa etária de 20 a 25 anos, ser procedente da capital, estar internado no período de 1931 a 1956, com diagnósticos de demência e suas variáveis, esquizofrenia, epilepsia, paralisia geral progressiva, imbecilidade/idiotia/oligofrenia. A maior parte morreu durante a internação, recebeu como tratamento a insulinoterapia, malarioterapia, piretoterapia por substâncias químicas, cardiazol, eletroconvulsoterapia por choque elétrico e lobotomia, de forma individual ou combinada. As descrições de uso da força policial para trazer os indivíduos ao Juquery mostram a ordem do Estado para a higienização da cidade e o abandono a que foram relegados durante a internação levaram à morte, na maioria por caquexia. Concluímos que a assistência psiquiátrica, não deixou de ser uma ferramenta de dominação de classe e de raça. O viés racial, manifestado na discriminação racial (tratamento nas relações sociais) e no preconceito racial (estereótipo), para ocorrer no hospício do Juquery, antes disso ainda, é demarcado pela sociedade, especialmente pelo Estado (principalmente por meio da polícia), assumindo a todo o conjunto seu aparelhamento repressor e ideológico do Estado, tanto dentro quanto fora da instituição do Juquery. Ter conhecimento dos fatos analisados nos prontuários de negros e pardos nos dá subsídios para análise mais crítica do processo histórico da assistência psiquiátrica brasileira. | |