Fracasso escolar: por que uma quantidade significativa de crianças não estão alfabetizadas ao final do ciclo I?

Abstract

This research has the object of investigating, understanding and problematizing school failure of children attending the final cycle of Fundamental Education in the words of teachers, parents and children themselves, since a great many children conclude the fifth year still with difficulties in managing the uses of reading and writing (or, sometimes, illiterate) as is demonstrated by international and national evaluations. These assessments, divulged by the media, make school failure explicit through the bad performance registered, exposing the general public to the precarious state of comprehensive education. This research, of a qualitative character, took place in an institution of that nature with a view at generating data by means of interviews with focal groups. Thus, three children presenting literacy difficulties, as well as their respective mothers and educators, took part in it. Authors like Bernard Lahire (2004) and Maria Helena de Souza Patto (2010) were fundamental in order to understand the history and construction of school failure, where as Magda Soares (2003; 2006), Maria do Rosário Longo Mortatti (2006), Roxane Rojo (2006), Alicia Bonamino, Carla Coscarelli e Creso Franco (2002) were essential in order to understand the links between literacy and school failure. The results present the lack of responsibility of the state and the invisible duel between parents and educators, accusing each other for the performance of the children. Besides, evoke in their discourses speeches put forward since the 19th century with respect to school failure. However, an influent new explaining factor springs up in the children‟s educational trajectory: affectivity in the teaching and learning process. It was discovered that school failure presents itself in different forms and that its causes cannot be explained based on unique reasons, neither can it be trivialized in the school environment. Rather it must be problematized and become a target for efficient public policies in which the main subjects in education must be heard (children, parents and educators). These seem to be conditions for the search of solutions or reduction of this problem ever more present in school rooms.

A presente pesquisa tem como objetivo investigar, entender e problematizar o fracasso escolar de crianças que cursam o final do ciclo I do Ensino Fundamental, a partir das vozes de professores, mães e crianças. Visto que uma grande parcela de estudantes termina o quinto ano com problemas no domínio e usos da escrita e da leitura ou, por vezes, não alfabetizados, como demonstram os resultados das avaliações sistêmicas nacionais e internacionais. Estas avaliações divulgadas pela mídia explicitam o fracasso escolar dos estudantes, por meio dos maus desempenhos apresentados, expondo à população em geral a precariedade do ensino público. Para tanto, a pesquisa, de caráter qualitativo, ocorreu em uma instituição de ensino pública, a fim de gerar dados por meio de grupos focais e entrevistas. Dessa forma, três crianças que apresentavam dificuldades na alfabetização assim como suas respectivas mães e educadoras atuais participaram deste estudo. Autores como Bernard Lahire (2004) e Maria Helena de Souza Patto (2010) foram fundamentais para compreender a história e a construção do fracasso escolar, enquanto Magda Soares (2003; 2006), Maria do Rosário Longo Mortatti (2006), Roxane Rojo (2006), Alicia Bonamino, Carla Coscarelli e Creso Franco (2002) foram essenciais para refletir sobre os elos entre alfabetização e fracasso escolar. Os resultados apresentam a desresponsabilização do Estado e o duelo invisível travado entre pais e professores, uma vez que ambos acusam-se mutuamente em relação ao desempenho escolar destas crianças (filhos e alunos). Além disso, evocam em seus depoimentos discursos emitidos desde o século XIX acerca do insucesso escolar. No entanto, um novo fator explicativo é trazido à tona como influente na trajetória do educando na escola, a afetividade no processo de ensino-aprendizagem. Constatou-se a partir da análise dos dados que o fracasso escolar apresenta-se de diferentes formas e que suas causas não podem ser explicadas por razões únicas, tampouco pode ser naturalizado no universo escolar, mas problematizado e alvo de políticas públicas eficazes nas quais os principais agentes da educação devem ser ouvidos (crianças, familiares e educadores). Estas parecem condições para a busca de soluções ou para a amenização do problema cada vez mais presente nas salas de aula.