O caminho de sati à atenção plena: uma recontextualização de mindfulness

Abstract

As intervenções baseadas em atenção plena, mindfulness based interventions ou MBIs têm ganhado popularidade no ocidente como um tratamento eficaz contra diversos transtornos mentais. Atreladas a uma bagagem teórica que evoca termos da psicologia budista, essas intervenções são associadas popularmente a todo um arcabouço histórico de filosofia e sabedoria religiosa oriental. Este texto visa aprofundar-se no contexto e na popularização das práticas meditativas originárias às MBIs e verificar o distanciamento que ainda permanece entre as formas de intervenção formuladas na psicologia ocidental, até o presente momento, e os ensinamentos milenares que estão na raiz do termo “mindfulness”. Os textos estudados e referenciados neste ensaio apontam uma discordância histórica acerca do significado real do princípio de mindfulness na psicologia e religião budista, ocasionada de uma confusão entre o termo sati e as práticas meditativas do Satipatthana Sutta, do Chan-Budismo chinês do século V ao VIII d.C., e das técnicas propostas a partir do modernismo budista em Burma e Tailândia no século XX. Além disso, as raízes supostamente milenares que as MBIs são conhecidas por terem no budismo como uma religião altamente científica e universalmente acessível não se estendem muito além das ideias decorrentes desse último evento, que são radicais se vistas em contraponto à tradição milenar do budismo. Desta forma, o aumento no intercâmbio entre os campos da ciência ocidental e da filosofia religiosa vê-se necessário, dado o potencial de enriquecimento que apresenta para ambos.