dc.description.abstract | Com os avanços da ecologia e com o advento da Convenção sobre Diversidade Biológica, o escopo da conservação se transformou, passando a ter como foco a biodiversidade e os processos que a determinam. Essa mudança, para ser efetiva, deveria estar refletida nos modelos de conservarão adotados e nas práticas de manejo. O presente trabalho visa verificar em que medida essa transformação já foi assimilada pelo modelo brasileiro de conservarão da biodiversidade em áreas protegidas e até que ponto a discrepância que existe entre o modelo vigente e esses recentes avanços, chamados aqui de 'novo modelo', pode ser prejudicial para a conservação. Para tanto, realizou-se, inicialmente, uma discussão sobre quatro aspectos importantes desse 'novo modelo': a variação temporal, a espacial, o papel dos distúrbios e o papel do homem, além de avaliar suas implicações para a conservarão de áreas protegidas. Para compreender o modelo de conservação vigente no país e suas práticas de manejo, foi realizado um estudo de caso no Parque Nacional de Brasília. Tal estudo abrangeu uma série de entrevistas, uma avaliação da situação de conservação do Parque e comparações entre as percepções dos entrevistados, as diretrizes oficiais e o 'novo modelo'. O total de 70 entrevistados contemplou: a) funcionários do Parque; b) funcionários do IBAMA sede; c) pesquisadores da Universidade de Brasília; d) representantes de organizações não governamentais, e e) moradores do entorno ou representantes de instituições que atuam no entorno. Revelou-se que existe uma diferença significativa de percepções, quanto aos objetivos e práticas de manejo relacionadas ao Parque Nacional de Brasília e as unidades de conservação em geral, entre os grupos avaliados e, também entre os funcionários do Parque. Foi possível, ainda, assinalar as discrepâncias entre as percepções desses agentes, as diretrizes oficiais e o 'novo modelo' de conservação. A análise da situação da conservação da biodiversidade do Parque abrangeu indicadores indiretos, uma vez que não existem indicadores biológicos disponíveis. Foram considerados os seguintes parâmetros: a) ocupação do entorno; b) densidade de estradas; c) áreas degradadas; d) incêndios; e) qualidade da água, e f) presença de capim gordura. Esses indicadores mostraram que a situação da unidade vem se deteriorando ao longo do tempo. Discutiu-se, então, em que medida essa situação e derivada das discrepâncias observadas entre as percepções dos entrevistados, as diretrizes oficiais e o 'novo modelo' de conservação da biodiversidade. Possivelmente, muito dessa situação se deve ao fato do modelo vigente no país ainda não ter incorporado muitos aspectos do 'novo modelo', podendo, também, algo ser atribuído a ausência de orientações oficiais ou sua inadequabilidade, o que permite que cada um dos agentes envolvidos com a gestão da unidade se guie por suas próprias percepções, gerando práticas de manejo discrepantes. | |