dc.description.abstract | Um estudo de alguns aspectos da ecologia reprodutiva de três espécies de Qualea (Vochysiaceae) foi feito numa área de Cerrado da Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília, Brasília-DF, no período de setembro de 1981 a fevereiro de 1983. As espécies estudadas foram: Q. parviflora, Q. multiflora e Q. grandiflora, chamadas comumente pau-terra. A fenologia destas espécies mostrou o seguinte padrão: o início da produção de folhas novas e flores ocorreu no início da estação chuvosa (setembro a outubro), e a época de floração durou de dois a cinco meses dependendo da espécie, com poucas flores abrindo cada dia. A formação de frutos ocorreu de dezembro a fevereiro e só maturaram em setembro do ano seguinte. Em todas as espécies ocorreu queda foliar durante a época seca (abril a agosto). Este comportamento está provavelmente ligado ao padrão de chuvas na região.
O sucesso reprodutivo destas espécies em relação a porcentagem de frutos formados e o número de botões produzidos foi muito baixo, ficando em torno de 2,8% para Q.parviflora, 2,3% para Q.multiflora e 0,3% para Q, multiflora, e possivelmente este baixo sucesso foi devido a deficiência de polinizadores. Todas as espécies possuem o sistema de reprodução do tipo alogâmico, são auto-rincompatíveis e não demonstraram ter fertilidade inter-específica. A eficácia reprodutiva, em termos de produção de frutos sob condições máximas de polinização (polinizações artificiais em relação a polinização aberta) foi comparável a de outras espécies auto-incompatíveis de outras comunidades tropicais. Comparando-se a porcentagem de frutos sob polinização-cruzada controlada com a produção de frutos na polinização aberta obteve-se valores de 0,36 para Q.parviflora e 0,33 para Q.multiflora, não tendo sido possível calculá-la para a espécie Q. gradiflora.
Nem todos os indivíduos observados na área de estudo produziram flores nos dois anos sendo que a densidade reprodutiva foi maior em 1981 do que em 1982 para as três espécies. Provavelmente esta queda na densidade reprodutiva de um ano para outro deve estar ligada às condições fisiológicas individuais das plantas. Estudos de morfologia das flores destas espécies mostraram que todas possuem espora no cálice onde o néctar, que é a principal recompensa para os visitantes, é produzido. As características morfológicas das flores (localização da espora e posição do estame em relação ao estilete) possibilitam a polinização do tipo pleurotríbica realizada por abelhas nas espécies Q. parviflora e Q, multiflora, e possivelmente do tipo esternotríbica realizada por mariposas na espécie Q. grandiflora.
As flores de Q.parviflora e Q.multiflora têm antese diurna com protoginia parcial, e seus visitantes as frequentam das 05:00,horas às 18:30 horas. Estas espécies foram hábeis para utilizar os mesmos polinizadores (abelhas do gênero Xylocopa e Bombus) porque não houve sobreposição no tempo de florescimento.
A flor de Q. grandiflora. tem antese noturna e os seus polinizadores começam a visitá-la a partir das 19:00 horas. Seu período de floração se sobrepõe com o de Q.multiflora, mas os horários de abertura da flor e seus polinizadores são diferentes. Os visitantes das flores exibem comportamento do tipo "trap-lining", provavelmente devido ao padrão da pequena produção diária de flor por planta. | |