Desenvolvimento infantil : avaliação e fatores de risco para atraso

Abstract

O desenvolvimento infantil deve ser visto como uma sequência de mudanças no comportamento e processos subjacentes, sendo este influenciado por fatores genéticos, biológicos e ambientais. Para acompanhar o desenvolvimento infantil , deve-se refletir sobre a criança em sua integralidade e aspectos socioambientais, visando identificar possíveis fatores de risco. A utilização de testes e escalas de avaliação padronizados possibilita a detecção precoce de alterações, levando a uma intervenção terapêutica mais rápida e eficaz. A partir desta premissa, foram elaborados dois estudos. O primeiro estudo teve como objetivo verificar as propriedades psicométricas da versão brasileira do Teste de Triagem Denver II, por meio de estudo metodológico. A amostra foi constituída por 254 crianças entre 0 a 72 meses sob risco de atraso no desenvolvimento. Os instrumentos Denver II e Ages & Stages Questionnaires-3 foram aplicados em todas as crianças por dois examinadores independentes. Foram verificadas: confiabilidade intra e interexaminadores, sensibilidade e especificidade e validade concorrente do Denver II. Análise estatística utilizou o Intraclass Correlation Coeficiente, Teste de Correlação de Spearman e Tabela de Contingência, nível de significância α=0.05. Os resultados identificaram que a confiabilidade intra e interexaminadores foi excelente em toda a amostra. A validade concorrente apresentou índices moderados a muito fortes entre 13 e 60 meses. Índices de sensibilidade e especificidade variaram de 73-99% e 58-92%, respectivamente. O segundo artigo, de natureza empírica, objetivou verificar o efeito moderador do risco social na relação entre risco biológico e desenvolvimento infantil. Participaram 203 crianças, entre 6 a 72 meses, oriundas de creches públicas, ambulatórios de seguimento e Programas de Educação Precoce do Distrito Federal que apresentaram algum fator de risco biológico para atraso no desenvolvimento infantil. A variável dependente foi o desenvolvimento infantil, avaliado pelo Denver II. Variável independente foi o índice de risco biológico (prematuridade, baixo peso, número de consultas pré-natal, aleitamento materno, Apgar 5’, número de internações), e a variável moderadora foi o índice de risco social (classe econômica, escolaridade, idade, estado civil e estresse da mãe). Foram realizadas análise de regressão bivariada e moderação, nível de significância α=0.05. Os resultados identificaram associação estatisticamante significativa e negativa entre o índice de risco biológico e escore total do Denver II e seus domínios (p≤ 0.05). O efeito moderador do índice de risco social foi estatisticamente significativo (B=-1.14; p=0.02), tornando-se mais forte quanto maior o índice de risco social (B= -7.534, p<0,00). O Denver II é um instrumento de triagem válido e confiável para ser utilizado na avaliação do desenvolvimento infantil de crianças brasileiras e os fatores sociais exercem um efeito moderador na relação entre riscos biológicos e desenvolvimento infantil em crianças de 6 a 72 meses de idade. A busca pela validação do Denver II é relevante para as áreas de Saúde e Educação, uma vez que é o teste de triagem mais utilizado no Brasil para avaliação de crianças com suspeita de atraso. Os resultados dessa tese ampliam as evidências sobre a avaliação do desenvolvimento infantil e

fatores biológicos e sociais que interferem no mesmo, podendo contribuir para a promoção de políticas públicas e para a melhoria da qualidade do atendimento e prevenção de comprometimentos ao desenvolvimento das crianças brasileiras.