Em 1931, duas instituições eram inauguradas em Porto Alegre para o atendimento de uma pobreza que perambulava pelas ruas da cidade: a Sociedade Porto-Alegrense de Auxílio aos Necessitados, vagamente destinada a “amparar mendigos e necessitados”, e o Abrigo Noturno Dias da Cruz, com o propósito específico de oferecer acolhimento àqueles que, do contrário, “dormiriam nas dependências dos postos policiais, em prédios abandonados, debaixo dos trapiches ou ao relento”. A sua criação quase simultânea indica que a presença desses indivíduos foi um problema posto para a cidade nesse momento, para o qual cada uma propôs a sua própria resposta, organizando ações em relação ao seu objeto, intimamente associadas às representações que construíram sobre ele. As formas que esses esforços assumiram, os argumentos que os justificaram, a aceitação ou refutação que encontraram junto ao poder, por um lado; a sensibilização que foram capazes de produzir na sociedade em que estavam inseridos, por outro; são elementos que implicam a existência de códigos partilhados por esse grande conjunto. Que códigos são esses, de onde se enunciam e que práticas orientam são as respostas buscadas, sobretudo, nas elaborações presentes nos relatórios das duas instituições.