Trabalho de conclusão de especialização
A inserção da farmácia na residência integrada em saúde do GHC e a influência das práticas interdisciplinares na formação do residente farmacêutico
Autor
Toffoli, Maria Elisa Gassen
Resumen
O surgimento das disciplinas científicas ordenou o conhecimento de forma organizada, metódica, facilitando a compreensão dos assuntos, mas também obstruindo a visão ampla e global de como estes se integram. Assentado sobre esta estrutura disciplinar, o ensino médico estabelecido em 1910 pelo relatório Flexner, com ênfase no modelo biomédico, centrado na doença e no hospital, conduziu os programas educacionais médicos a uma visão reducionista, desconsiderando aspectos sociais e coletivos. As demais profissões da área da saúde igualmente seguiram este modelo de ensino. Movimentos intensificados a partir dos anos 1960 em todo o mundo, evidenciaram a falta de compromisso do ensino médico com a realidade e as necessidades da população, e nos anos 1980 foram desencadeados processos de reforma do setor saúde em vários países. No Brasil, ocorreu a criação do Sistema Único de Saúde, desenhado com a Constituição Brasileira de 1988, sendo seus princípios e linhas gerais de funcionamento estabelecidos no ano de 1990. Com isto, modificou-se o perfil necessário ao médico egresso da universidade, devendo ser a formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, nos diferentes níveis de atenção, voltada para ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. Paralelamente a estas mudanças, houve um crescente envolvimento de outras profissões na atenção ao paciente, uma vez que uma única disciplina é incapaz de atender a todas as necessidades do usuário, que deve ser visto de forma integral, levando-se em conta suas dimensões sociais, econômicas e culturais. A Residência Integrada em Saúde do GHC foi constituída em 2004 com a proposta de integrar diversos núcleos profissionais, seus distintos conhecimentos, as diferentes áreas de ênfase e as teorias e práticas desenvolvidas em cada campo de atuação. Com a RIS, busca-se deslocar o eixo da formação centrada na assistência individual, intra-hospitalar, para um processo de formação mais contextualizado. A RIS busca provocar a experiência de abertura recíproca e comunicação entre núcleos profissionais, constituindo um plano interdisciplinar que se impõe pela troca de saberes e pela construção coletiva de novos conhecimentos. As Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Farmácia, de 2002, estabelecem uma formação capaz de integrar o farmacêutico na equipe interdisciplinar de saúde e o desenvolvimento de habilidades e competências para atuação junto ao usuário do sistema de saúde. Estas diretrizes estão em implantação em todo o território nacional, havendo, ainda, grandes desigualdades no ensino farmacêutico. A RIS-GHC proporciona um espaço privilegiado de formação em serviço em equipes interdisciplinares, que possibilitam trocas de experiências, definições conjuntas de planos terapêuticos, abordagens com olhares variados e uma interpenetração de saberes distintos, compondo um novo saber, mais homogêneo, colaborativo e pautado na integralidade da atenção. A inserção do farmacêutico na RIS-GHC propicia inúmeras ações deste profissional na equipe interdisciplinar, tais como educação sanitária, redimensionamento das práticas farmacêuticas, atuação em grupos, elaboração de material informativo, entre outras. Neste contexto, a RIS-GHC complementa a formação farmacêutica, desenvolvendo competências e habilidades fundamentais para a atuação deste profissional no SUS.