Dissertação
Perfil neuropsicológico de adolescentes com transtornos de ansiedade
Autor
Jarros, Rafaela Behs
Resumen
Objetivo: Os transtornos de ansiedade estão entre os mais prevalentes na infância e adolescência, estão associados a um prejuízo no desempenho social e a possíveis déficits cognitivos que levariam a um baixo rendimento escolar. Porém ainda são inconsistentes os achados nesta área, tornando-se necessários estudos que investiguem o perfil neuropsicológico desses pacientes. O presente estudo tem como objetivo avaliar o perfil neuropsicológico de adolescentes com diagnóstico de transtornos de ansiedade (transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade de separação, transtorno de ansiedade social e transtorno do pânico) e compará-los com controles. Métodos: Nossa amostra origina-se de um estudo transversal com uma amostra comunitária de adolescentes, de idade entre 10 a 17 anos, provenientes de seis escolas públicas pertencentes à área de captação da Unidade Básica de Saúde do HCPA. Dentre os 68 participantes, 41 tinham diagnóstico de transtorno de ansiedade e 27 controles sem ansiedade, avaliados segundo os critérios do DSM-IV, através da “Schedule for Affective Disorders and Schizophrenia for School-Age Children-Present and Lifetime Version” (K-SADS-PL). Todos os adolescentes participaram de 3 sessões de avaliação neuropsicológica em suas escolas, com uma extensa bateria referente às seguintes funções cognitivas: atenção, memória de trabalho, memória verbal semântico-episódica, praxia visuoconstrutiva, funções executivas, processamento emocional e inteligência. Resultados: Não foram encontradas diferenças significativas nos testes neuropsicológicos que avaliavam as seguintes funções: atenção, memória verbal semântico-episódica, praxia visuoconstrutiva, funções executivas e inteligência. Entretanto, os adolescentes com ansiedade leve apresentaram um melhor desempenho no teste Span Verbal de Dígitos ordem inversa, utilizado na avaliação de memória de trabalho, em comparação aos sujeitos com ansiedade grave e aos controles, que não diferiram entre si (EMM = 2,3 [0,10 EP] vs. EMM = 2,1 [0,16 EP] vs. EMM = 1,9 [0,11 EP], respectivamente; p = 0,032). Foi encontrada associação entre os adolescentes com transtorno de ansiedade e um prejuízo no reconhecimento de faces de raiva (M= 3,1 + 1,13 DP vs. M= 2,5 + 1,12 DP; RC= 1,72; IC95% [1,02; 2,89]; p= 0,040). Por outro lado, os adolescentes com ansiedade apresentaram uma maior habilidade em nomear as faces neutras em comparação aos controles, 85% dos casos vs. 62,9% dos controles não cometeram nenhum erro ao nomear as faces neutras (RC= 3,46; IC95% [1,02; 11,74]; p=0,047). Não foram encontradas diferenças significativas nas outras emoções (felicidade, tristeza, nojo, surpresa, medo) da tarefa de reconhecimento facial. Conclusão: Embora os transtornos de ansiedade pareçam não prejudicar as principais funções cognitivas na adolescência, a ansiedade quando leve pode influenciar alguns processos na memória de trabalho. Nosso estudo econtrou diferenças significativas no reconhecimento facial entre adolescentes ansiosos e não ansiosos, apoiando modelos cognitivos atuais que demonstram a influência da ansiedade na detecção e/ou processamento de emoções. Nossos achados contribuem para a escassa literatura na área de ansiedade e neuropsicologia, realizado em uma amostra de origem comunitária, com uma avaliação diagnóstica psiquiátrica completa e extensa bateria de testes, possibilitando a avaliação de várias funções neuropsicológicas. Objective: Anxiety disorders are amongst the most frequent psychiatric diagnosis in adolescence, they are associated with social impairment and possible cognitive deficits that could result in a poor academic performance. Since findings are inconsistent in this area, studies with the aim to investigate the neuropsychological profile of this patients are necessary. The aim of the present study is to evaluate the neuropsychological profile of adolescents with anxiety disorders (generalize anxiety disorder, separation anxiety disorder, social anxiety disorder and panic disorder), to non-anxious controls. Methods: Our sample was selected from a larger cross sectional community sample of adolescents, aged 10 to17 years from six different public schools in Porto Alegre. From the 68 participants, 41 had a current anxiety diagnosis and 27 were controls without any current anxiety diagnosis. Adolescents diagnostic status was assessed through a DSM-IV based semi-structured diagnostic interview (K-SADS-PL – Schedule for Affective Disorder and Schizophrenia for School-Age Children – Present and Lifetime Version. All adolescents underwent 3 sessions of a neuropsychological assessment, in their school, with a battery assessing attention, verbal episodic and working memory, visuoconstructive skills, executive functions, emotional processing and cognitive global functioning. Results: No differences were found in any neuropsychological tests regarding attention, verbal episodic memory, visuoconstructive skills, executive functions and cognitive global functioning. However, our data demonstrated that adolescents with mild anxiety had a better performance in the Digit Span backward (used to accesses working memory) than the others two groups (severe anxiety and controls), which did not differ among themselves (EMM = 2.3 [0.10 SE] vs. EMM = 2.1 [0.16 SE] vs. EMM = 1.9 [0.11 SE], respectively; p = 0.032). Anxious adolescents had a higher mean number of errors (M= 3.1 + 1.13 SD for cases vs. M= 2.5 + 1.12 SD for controls) in angry faces as compared to controls (OR=1.72; CI95% [1.02; 2.89]; p=0.040). However, they named neutral faces more correctly than control adolescents, 85% of cases vs. 62.9% of controls with no errors in neutral faces (OR=3.46; CI95% [1.02; 11.74]; p= 0.047). No differences were found in the other human emotions (sadness, disgust, happy, surprise and fear). Conclusion: Although anxiety disorders seem not to impair principal cognitive functions at adolescence, mild anxiety might enhance certain processes in working memory. Our study has demonstrated significant differences in facial recognition between anxious and non-anxious adolescents. Our study supports an anxiety-mediated influence in emotion detection and/or processing, consistent with some current cognitive models of anxiety. Our study was able to evaluate adolescents from a community sample with anxiety disorder diagnoses assessed by a well conducted clinical interview and a comprehensive battery of tests, enabling the evaluation of several neuropsychological functions adding important data to the sparse literature in this field.