Tese
A (des)ordem doméstica : disposições, desvios e diálogos
Autor
Monsell, Alice Jean
Resumen
A pesquisa de Doutorado em Poéticas Visuais, intitulada “A (des)ordem doméstica: Disposições, desvios e diálogos”, do PPGAV/IA/UFRGS, orientada pelo Prof. Dr. Hélio Fervenza desde 2005, partiu da visita a casas de colaboradoras, que registraram a disposição e o display dos objetos de seu lar. Na minha casa, comecei a desenvolver procedimentos táticos de détournement (desvio) das minhas práticas domésticas e artísticas com base em modelos da vida cotidiana – os registros das visitas, os processos domésticos materiais e sociais, sua efemeridade e seus acasos – notando algumas referências na arte: os Tableaux Piéges (Pinturas Armadilhas, 1960-70) de Daniel Spoerri. Gartenskulptur (1968- 96) de Dieter Roth, Gordon Matta-Clark, Kurt Schwitters, bem como a noção de “arte comoa- vida” em Allan Kaprow. Entre 2005 e 2006, emergem procedimentos de desvio (détournement) de processos de uso e da função de objetos domésticos a pa rtir de sua reconstrução, usando como materiais de trabalho as “sobras, que se referem aos objetos inúteis, guardados e acumulados na minha casa. A operação poética, a “to-pó-grafia”, investiga a disposição pelo desvio de um guardanapo de crochê para a função de matrizestêncil coberta com poeira, embaralhando a ordem cultural deste objeto. O gesto doméstico de varrer sofre o desvio através dos “re-enquadramentos”, quando poeira e detritos do chão são transformados em “quadros” pendurados na parede em cima do sofá, problematizando um modelo da arte, bem como um modelo doméstico de disposição e de display. A partir do final de 2006, experimentei com a inserção da documentação fotográfica das visitas em objetos domésticos reais ou reconstruídos. Esse é um dos procedimentos que elabora questões de apresentação pública. Emerge nesta etapa, a proposta de apresentação e display: a domesticação. Essa se refere à operação de “domesticar um espaço não-doméstico”, pela recontextualização. Por exemplo, de uma garagem, uma sala de aula ou galeria, a partir de modelos de disposição observados em casas. A domesticação de uma galeria faz com que a função estética dos objetos e sua função social oscilem, transformando o espaço em meio para fornecer um contexto para diálogo e trocas. Uma das táticas para potencializar tais interações inclui minha presença no espaço de apresentação, em certos dias e horários, para “receber as visitas”, trocar palavras, compartilhar chá com bolachas... visando a instaurar dúvidas sobre a função e a (des)ordem dos objetos ali dispostos e propor outro modelo social para as relações que podem ocorrer dentro de um espaço íntimo público. The doctoral research project in Visual Poetics, entitled, “Domestic (dis)order: (dis)placements, detours and dialogues”, at the PPGAV/IA/UFRGS, oriented by Professor Hélio Fervenza, PhD since 2005, initially proposed visiting the houses of collaborators who recorded the placement and display of objects in their homes. In my house, I proceeded to develop tactical procedures of détournement (detour) of my domestic and artistic practices based on quotidian models - the records of visits and observed domestic material and social processes, both ephemeral and random - noting some of my references in art: the “Tableaux Piéges” (Snare Pictures) (1960-70) by Daniel Spoerri; “Gartenskulptur” (1968-96) by Dieter Roth; Gordon Matta-Clark, Kurt Schwitters, as well as the notion of “lifelike art” in Allan Kaprow. Between 2005 and 2006, procedures emerge that detour (deturn) the processes of use and the function of domestic objects through their reconstruction, using as work materials the “leftovers”, which refers to all useless objects that had been stored and were accumulating in my home. The “dust-o-graph” investigates the placement of crochet doilies by detouring their everyday function into a graphic tool for stenciling with household dust, shuffling this object’s cultural order. The household gesture of sweeping suffers a detour through the procedure of “re-picturing” when floor dust and scraps are transformed into “pictures” placed hanging on the wall above the sofa, problematizing a model of art, as well as a model of placement and display in the home. Toward the end of 2006, I began to experiment with insertion of photographic documents from visits into real or reconstructed domestic objects. This is one of the procedures developed to elaborate questions involving public presentation. At this stage, the poetic proposal of public presentation and display “domestication” emerges. This refers to the operation of “domesticating a non-domestic space” by recontextualizing, for example, an art gallery, a classroom or a garage using placement models observed in homes. The “domestication” of a gallery makes the aesthetic function of objects and its social order oscillate, transforming the space into a means to offer a context for dialogue and exchanges. One of the tactics for potentializing interactions is my own presence in the presentation space, at certain times, when I “receive visitors”, converse, offer tea and cookies… aiming to place doubt on the function and order of objects (dis)placed there and at proposing an alternative social model for the relations that may occur within an intimate public space.