dc.description | O modelo, ou modelos, de organização da Economia Solidária nasceu, aproximadamente, ao mesmo tempo em que surgia o capitalismo industrial e foi reinventado na década de 1990, enquanto alternativa ideológica de afronta aos efeitos excludentes do capitalismo e/ou alternativa de política de emprego e renda à população mais pobre, desempregada ou subempregada, com a formação de iniciativas por parte da população excluída do mercado. Esta “reinvenção” ocorre majoritariamente sob orientação de organizações religiosas, sindicais, universitárias e ONG’s. Segundo a SENAES (Secretaria Nacional de Economia Solidária) (BRASIL, 2004b), considera-se Economia Solidária o conjunto de atividades econômicas com as seguintes características: cooperação, autogestão, viabilidade econômica e solidariedade. Em 2005, a secretaria identificou 14.954 empreendimentos econômicos solidários no Brasil, dos quais 85 em Porto Alegre. Para estudar a Economia Solidária, pela ótica econômica, não é suficiente a teoria econômica tradicional, pois é necessário: entender o surgimento e a sobrevivência de associações que encerram concomitantemente as lógicas econômica, política e social; considerar a relação entre ética e economia, com uma aproximação das duas, e entender esta relação tanto na busca de outros princípios de comportamento econômico quanto no entendimento dos juízos de valores feitos pelas pessoas ao adjetivarem um comércio de justo; entender o mercado como uma forma de alocação, dentre outras e que as outras formas de alocação permanecem, além de entender o mercado como uma formação social; entender como se formam os preços “justos” e porque um consumidor escolheria um produto de Economia Solidária, mesmo tendo que pagar um preço mais elevado. Foram realizados dois estudos de caso em Porto Alegre (RS, Brasil): nas feiras da Cooperativa Ecológica Coolméia e nas lojas da Etiqueta Popular. Por meio de entrevistas realizadas com produtores cooperados e com consumidores dos dois empreendimentos, buscou-se identificar se estes percebem os empreendimentos como mais do que uma alternativa de emprego, se os consumidores são conscientes de que compram uma relação de compromisso junto com os produtos e qual é o reflexo dos anteriores na formação dos preços. A análise qualitativa das entrevistas demonstra um grau de aderência com as teorias discutidas anteriormente, mas também demonstra que há ainda um longo caminho a ser percorrido, o que é percebido pelos produtores entrevistados. O fato da maioria dos produtores afirmarem que estavam em melhor situação sócio-econômica com sua participação nos empreendimentos e o fato de alguns consumidores parecerem conscientes com relação ao efeito de suas decisões de compra podem apontar a Economia Solidária como uma forma alternativa à economia capitalista. A dúvida que permanece diz respeito à dimensão desta Economia Solidária, ou seja, se ela conseguiria incluir toda a população excluída pela economia capitalista, sem deixar de gerar os benefícios encontrados até agora nestes empreendimentos e até mesmo os aumentando. Ademais, há dúvidas quanto à relação da Economia Solidária com a economia capitalista e com o governo. | |
dc.description | The model, or models, of organization of the Solidarity Economy was born, approximately, at the same time as the industrial capitalism was being developed. It has, however, been reinvented in the 1990’s as an ideological alternative of confrontation to the excluding effects of the capitalism and/or as an alternative of employment and income policies to the poorest, unemployed or underemployed population. This was made by means of initiatives of the population excluded from the market, under the orientation of religious organizations, labor unions, universities and NGO’s. According to SENAES (National Office of Solidarity Economy) (BRASIL, 2004b), it is considered Solidarity Economy the ensemble of economic activities with the following characteristics: cooperation, self-management, economic feasibility and solidarity. In 2005, the Office identified 14.954 solidary enterprises in Brazil, among which 85 are located in Porto Alegre. To study the Solidarity Economy, from the economic point of view, the traditional economic theory is not suitable, because it is necessary to: understand the emergence and the survival of association that enclose, at the same time, the economic, social and political logics; consider the relationship between ethics and economics, and, also, understand both the search of other economic behavioral principles and the understanding of moral judgments made by people when qualifying a trade as fair; understand the market as one form of allocation among others, which also continue to exist, as well as understand that the market is a social construction; understand how the fair prices are formed and why a consumer would choose a product of Solidarity Economy, even if he has to pay a higher price for it. We have analyzed two cases of Porto Alegre, Brazil: the open markets of Cooperativa Ecológica Coolméia e the stores of Etiqueta Popular. The assessment was made by interviews with producers and consumers of both enterprises, as a means to identify if the producers view the undertaking as more than an employment alternative, if the consumers are conscious that they buy a commitment relationship along with the products, and what is the reflex of the answer of the two previous questions in their price formation. The qualitative analysis of the interviews has demonstrated a degree of adherence to the theories discussed before. Also, it has demonstrated that there is still a long way to go through, and that the producers have realized. The fact that the majority of the producers has affirmed that they were better off because of their participation and the fact that some consumers appeared to be conscious of the effect of their purchase decisions might indicate that the Solidarity Economy is an alternative to the capitalist economy. However, doubt still remains as to the size of this economy, that is, could it include all the population excluded by the capitalist economy, without overlooking the benefits generated until now, and even enlarging them? Besides, there are doubts as to the relationship of the Solidarity Economy with the capitalist economy and with the government. | |