Tese
Paradoxos da modernidade : a crença em bruxas e bruxarias em Porto Alegre
Autor
Araújo, Susana de Azevedo
Resumen
O presente estudo consiste numa análise etnográfica e comparativa entre os sistemas de crenças e práticas da bruxaria tradicional e moderna existentes em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a primeira sendo restrita aos habitantes da Ilha da Pintada e a segunda transitando, sobretudo entre jovens das camadas médias da cidade. Aparentemente, a bruxaria tradicional vinculada às práticas do catolicismo popular tradicional é o oposto da bruxaria moderna ou neopagã. Ao invés de um Deus transcendente, a última cultua uma Deusa imanente, que está presente em todos os seres da natureza. Além disso, as bruxas modernas de Porto Alegre dizem trabalhar somente “para o bem”, enquanto as bruxas tradicionais da Ilha da Pintada estariam ligadas a práticas de malefícios e mesmo ao embruxamento de crianças. Porém, as correspondências começam a existir quando observamos uma outra personagem das narrativas de bruxas e bruxarias na Ilha, ou seja, as benzedeiras. Elas são as praticantes da “boa magia”, agindo no combate às ações de bruxaria, na comunidade. Benzedeiras e bruxas modernas valem-se de um mesmo símbolo de proteção, o pentagrama ou Símbolo de Salomão. A partir desta primeira analogia, outras serão observadas ao contrastarmos esses dois universos simbólicos. The present study consists of an ethnographic and comparative analysis between the systems of faiths and practices of the traditional and modern witchcraft in Porto Alegre (Rio Grande do Sul); the first one concerning exclusively the inhabitants of the Island of Pintada and the second one, mainly young people of the middle class of the city. Apparently, traditional witchcraft related to the practices of popular traditional Catholicism is the opposite of the modern witchcraft or neo-pagan. Instead of a transcendent God, modern witchcraft worships an immanent Goddess, who is present in all beings of the nature. Besides, modern witches from Porto Alegre state they “work only for the good”, while the traditional witches of the Island of Pintada would be linked to practices of harms and even to children's bewitchment. However, similarities begin to exist when we observe another character of the witches' narratives and witchcrafts in the Island, in other words, the benzedeiras (faith healers). They practice “good magic”, acting against the witchcraft actions in the community. Benzedeiras and modern witches use the same protection symbol, the pentagram or Solomon Seal. Starting from this first analogy, we will observe many others as we contrast these two symbolic universes.