Tesis
Toda desenhada à mão: etnografia do fisiculturismo feminino em Santa Catarina
Autor
Monaco, Helena Motta
Institución
Resumen
TCC (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Curso de Ciências Sociais. Ao longo dos anos, as mulheres adentraram espaços profissionais
anteriormente ocupados exclusivamente por homens. O século XX trouxe
um avanço importante na inserção de mulheres tanto no mercado de
trabalho quanto na atuação em esportes. A pesquisa que deu origem a este
trabalho teve o objetivo de identificar, a partir de uma abordagem
etnográfica, como se dá a inserção e a vivência das atletas no
fisiculturismo em Santa Catarina e como elas constroem ou desconstroem
percepções de feminilidade em relação com o esporte. As mulheres
atletas, e especialmente as do fisiculturismo, são vistas como desafiadoras
das noções de feminilidade normativa devido à prática de esportes;
porém, atributos como feminilidade, graciosidade e delicadeza são
critérios de avaliação das atletas nas competições organizadas pelas
federações de fisiculturismo, sendo, portanto, constitutivas do esporte nas
categorias femininas. Por ser um espaço marcado pelo gênero, o esporte
é um âmbito de difícil inserção para as mulheres, que foram
historicamente impedidas de participar de competições esportivas a partir
de justificativas biológicas que entendem o corpo feminino como frágil.
O fisiculturismo é um esporte puramente estético, que visa a
potencialização muscular em volume, definição e simetria. As categorias
de competição possuem diferentes critérios de avaliação das atletas, que
moldam seus corpos através de exercícios físicos, dietas rígidas, e,
frequentemente, anabolizantes. O crescente envolvimento das mulheres
no fisiculturismo abala justificativas biológicas na medida em que cria
corpos femininos que não correspondem a uma suposta fragilidade.
Entretanto, as mulheres praticantes deste esporte sofrem diversas
repressões que partem tanto das federações de fisiculturismo, que tentam
impedi-las de desenvolver grandes medidas musculares, quanto de
pessoas externas ao fisiculturismo que consideram a musculatura
volumosa como masculinizante e contrária a uma feminilidade normativa.
Apesar das críticas constantes e dificuldades com a baixa premiação e
falta de patrocínio, as fisiculturistas permanecem se afirmando como
atletas e tecem suas próprias concepções de feminilidade. Over the years, women have entered professional spaces previously occupied exclusively by men. The twentieth century brought a major advance towards the integration of women both in the labor market and in sports. The objective of the research that originated this work was to identify, from an ethnographic approach, how the insertion of female athletes in bodybuilding occurs in Santa Catarina; how they experience the sport and how they construct or deconstruct perceptions of femininity in relation to the sport. Women athletes, and especially bodybuilders, are often seen as challenging the normative notions of femininity due to the practice of sports; however, attributes such as femininity, grace and delicacy are part of the criteria for the evaluation of athletes in competitions organized by the federations of bodybuilding, and therefore constitute an integral part of the sport in women's categories. As a gendered space, sports are an area of difficult insertion for women, who historically suffered interdictions to participating in sports competitions through biological justifications that consider the female body as fragile. Bodybuilding is a purely aesthetic sport, with the aim of muscle potentiation in terms of volume, definition and symmetry. The competition categories have different criteria for evaluating the athletes, who shape their bodies through exercise, strict diets, and often steroids. The increasing involvement of women in bodybuilding undermines the biological justifications against women competing in sports by creating female bodies that do not match the idea of a supposed weakness. However, female bodybuilders suffer various repressions both by the bodybuilding federations, trying to prevent them from developing large muscle sizes, as well as people external to the sport, who consider bulky muscles as masculinizing and contrary to a normative femininity. Despite the constant criticism and difficulties, with few awards and lack of sponsorship, female bodybuilders continue to assert themselves as athletes and develop their own concepts of femininity.