Tesis
Uma verdadeira mulher em sua inteireza de mulher
Autor
Fayad, Daphne de Castro
Institución
Resumen
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2015. Uma verdadeira mulher em sua inteireza de mulher? é uma designação a respeito de Madeleine Gide contida em um artigo de Lacan, publicado originalmente em maio de 1958. A presente tese parte da interrogação de tal afirmação, visto que, desde Freud, não se afirma uma ?verdade? sobre o devir sexual numa separação nítida entre homem e mulher. O texto de Lacan A juventude de Gide ou a letra e o desejo, recebe como abertura um trecho de Medeia de Eurípides (431 a.C.) e seu conteúdo conta com uma breve comparação dos pares Jasão - Medeia e André Gide - Madeleine. Em função da equivalência estabelecida por Lacan entre o assassinato dos próprios filhos por Medeia e a incineração, por Madeleine, das cartas trocadas durante mais de trinta anos entre ela e o escritor André Gide, seu marido e primo, essas duas mulheres são por ele apresentadas como exemplares do que há de verdadeiro em uma mulher. Partindo então das referências contidas no texto lacaniano, especialmente a tragédia de Eurípides e as fontes biográficas de Madeleine e André Gide, o presente trabalho de tese relança o debate sobre a mulher e o feminino em psicanálise, articulando os desenvolvimentos teóricos de Lacan a respeito do tema até a década de 1960 àqueles de Freud, explanando seus elementos mais relevantes e aparentes contradições. Tal articulação é subsidiada pela análise de cartas e trechos de diários de Madeleine, bem como dos versos da tragédia de Eurípides, responsável por eternizar o mito de Jasão e Medeia. Por meio dos esclarecimentos proporcionados por essas fontes, aponta-se um limite ao estatuto de conceito que pode adquirir a afirmação de uma ?verdadeira mulher? e, ao mesmo tempo, abre-se um amplo campo de correspondências possíveis entre seu conteúdo e as noções que envolvem o tema do feminino em psicanálise.<br> Abstract : "A true woman, in her uncompromising nature as woman" is a statement about Madeleine Gide contained in an article by Lacan, originally published in May 1958. The present thesis questions this statement as, since the time of Freud, we do not state a "truth" about sexuality with a clear division between men and women. Lacan?s text, The youth of Gide, or the letter and desire, opens with a stretch of Medea by Euripides (431 BC) and its content includes a brief comparison of the two couples Jason/Medea and André Gide/Madeleine. Based on the equivalence established by Lacan between Medea?s murder of her own children and Madeleine?s incineration of the letters exchanged during more than thirty years between her and the writer André Gide, her husband and cousin, these two women are presented as examples of what is true in a woman. Starting from the references in Lacan's text, especially the tragedy of Euripides and the biographical sources of Madeleine and André Gide, this thesis expands upon the debate about women and the feminine in psychoanalysis, articulating the theoretical developments of Lacan about the subject until the 1960s to those of Freud, seeking to shed light on their most important elements and apparent contradictions. This approach is supported by the analysis of letters and entries in Madeleine?s journal and also Euripides' tragedy, in which the myth of Jason and Medea is perpetuated. Through the clarification provided by these sources, a limit to the conceptual status that can describe the affirmation of a "true woman" is indicated. In addition, these sources open a wide field of possible matches with the concepts involved in the subject of the feminine in psychoanalysis.