Tesis
"A gente pode aprender muito com essas trocas de línguas e não ficar preso numa língua só": práticas de linguagem na introdução do ensino bilíngue em sala de aula do ensino médio
Autor
Cardoso, Angela Cristina
Institución
Resumen
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Florianópolis, 2015. O presente trabalho investiga e discuti como se constituem as práticas de linguagem durante a introdução do ensino bilíngue português-inglês em uma sala de aula de ensino médio, no sul do Brasil, em que a língua de instrução é o inglês. Desenvolvido numa perspectiva etnográfica, este estudo qualitativo e interpretativista tem por objetivo aumentar o conhecimento sobre as práticas de linguagem de alunos e professores em salas de aula de ensino bilíngue, com base na análise de dados, gerados em observações de aulas, entrevistas e análise documental. Alinhada aos estudos etnográficos em contextos escolares, a presente pesquisa discute práticas de linguagem reais, em contextos específicos de usos, articulando essa discussão com questões ideológicas e políticas inerentes à vida social. Esta pesquisa está situada na área de Linguística Aplicada, na linha de pesquisas pós-colonialistas, que consideram a relevância do sujeito sócio-histórico e questionam formas cientificistas e positivistas de construir um conhecimento supostamente objetivo, sem falantes reais e sem função social. Fundamenta-se em estudos que tratam de ensino bilíngue (MAHER, 2007; GARCIA, 2009; BARTLETT; GARCIA, 2011; GARCIA; LI WEI, 2014; CANAGARAJAH, 2013a, 2013b), políticas educacionais de línguas (GARCIA; MENKEN, 2010, MCCARTY, 2011; LUCENA, 2012; MAHER, 2013), ideologias subjacentes a essas políticas, e de como essas ideologias sobre linguagem, ensino e aprendizagem relacionam-se com o conceito de translinguagem. Discute a expansão do inglês pelo mundo e diferentes formas de interpretar essa expansão, seja como imperialismo linguístico ou como forma de apropriação do inglês de forma agentiva (RAJAGOPALAN, 2003, 2004, 2009; GARCIA, 2011; MOITA LOPES, 2008; PENNYCOOK, 2004, 2010a; COX; ASSIS-PETERSON, 2013). Analisa também o mito do falante nativo no contexto educacional, fazendo um contraponto com as práticas reais de alunos e professores em diferentes contextos de ensino bilíngue. Os dados foram categorizados de acordo com dois temas principais, a ideologia monolíngue e a constituição das práticas de linguagem no contexto específico como práticas translíngues. Os resultados evidenciam a força da ideologia monolíngue, que enaltece um falante nativo ideal e uma normatividade linguística. Mesmo assim, alunos e professores se permitem construir sentidos a partir de práticas de linguagem híbridas, transgredindo e resistindo a uma política de separação entre línguas e a normas pautadas na reprodução de uma cultural ideal anglofônica. Os sentidos que as práticas translíngues adquiriram no contexto analisado se relacionam à agentividade dos participantes na escolha de seus recursos linguísticos para atingir objetivos comunicativos, e também às performances criativas dos participantes, que envolvem hibridização cultural. Demonstra ainda como as práticas translíngues podem ser um recurso pedagógico, permitindo que professores e alunos façam sentido de seus mundos bilíngues enquanto procuram ensinar e aprender dentro dessa modalidade de ensino repleta de complexidades, particularidades e demandas. Os resultados deste trabalho contribuem para a literatura sobre educação bilíngue e práticas de linguagem em sala de aula, mostrando como os usos linguísticos reais de indivíduos bilíngues podem ser aceitos dentro do ambiente escolar e como eles podem enriquecer a experiência de aprendizagem, colaborando, assim, para a construção de modelos de ensino mais sensíveis à realidade contemporânea. <br> Abstract : The present study investigates the constitution of language practices in the context of an introduction of bilingual education in a secondary school classroom. Developed through an ethnographic perspective, this qualitative and interpretivist study is aimed at increasing the knowledge about language practices of students and teachers in bilingual education classrooms, based on the data analysis resulted from classroom observation, interviews and document analysis. In line with ethnographic studies in school contexts, the present research discusses real language practices, in specific contexts of use, articulating this discussion with ideological and political issues inherent to social life. This study is placed in the area of Applied Linguistics, in the strand of post-colonial research, which considers the relevance of the sociohistorical subject and questions scientismist and positivist ways of constructing a knowledge which is supposedly objective, without real speakers and without a social function. It is based on studies that investigate bilingual education (MAHER, 2007; GARCIA, 2009; BARTLETT; GARCIA, 2011; GARCIA; LI WEI, 2014; CANAGARAJAH, 2013a, 2013b), language education policies (GARCIA; MENKEN, 2010, MCCARTY, 2011; LUCENA, 2012; MAHER, 2013), ideologies underlying these policies, and how these ideologies about language, teaching and learning relate to the concept of translanguaging. It discusses the expansion of English in the world and different ways to interpret this expansion, be it as linguistic imperialism or as a way to take ownership of English in an agentive way (RAJAGOPALAN, 2003, 2004, 2009; GARCIA, 2011; MOITA LOPES, 2008; PENNYCOOK, 2004, 2010a; COX; ASSIS-PETERSON, 2013). It analyses the myth of the native speaker in the educational context, contrasting it to the real practices of students and teachers in different contexts of bilingual education. The data was categorised according to two main themes, the monolingual ideology and the constitution of language practices in that specific context as translingual practices. The results highlight the power of the monolingual ideology, which exalts an ideal native speaker and linguistic normativity. Nevertheless, students and teachers allow themselves to make meaning from hybrid language practices, transgressing and resisting a policy of separation between languages and norms which are guided by the reproduction of an ideal Anglophonic culture. The meanings that the translingual practices acquired in the context studied are related to the agency of the participants in the choice of their linguistic resources in order to achieve their communicative objectives, and also related to the creative performances of the participants, which involved cultural hybridization. I have also demonstrated how translingual practices can be a pedagogical resource, allowing teachers and students to make sense of their bilingual worlds while they try to teach and learn in this modality of education full of complexities, particularities and demands. The results of this work contribute to the literature on bilingual education and language practices in the classroom, showing that the real linguistic uses of bilingual subjects can be accepted in the school environment and also how they can enrich the learning experience, collaborating for the contruction of teaching models which are more attuned to contemporary times.