Tese (Doutorado)
Santé et spiritisme: itinéraires thérapeutiques de la troisième révélation en France et au Brésil
Autor
Silva, Érica Quinaglia
Institución
Resumen
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2011. Esta tese tem como objetivo investigar os itinerários terapêuticos da terceira revelação, ou espiritismo, na França e no Brasil. A investigação é feita em contextos urbanos, a dizer a cidade de Paris e a região metropolitana de Brasília. Os itinerários do espiritismo e da saúde, no plural, traduzem a idéia de uma circulação de representações e igualmente de práticas, que não são estanques e acabadas, mas sim modificadas social, histórica e culturalmente. O espiritismo nasceu como ciência e filosofia na França. Foi apropriado enquanto religião no Brasil. Como será apresentado, seus saberes e fazeres estão em permanente (re)construção. A tese perpassa os embates entre o espiritismo e a ciência nesses dois países. No Brasil, tendo se consolidado como religião, rótulo que lhe garante respaldo constitucional, o “espiritismo de mesa branca” teve de enfrentar, ainda, o “baixo espiritismo”. Essa questão é pertinente para mostrar que as práticas espíritas analisadas foram (e ainda são) marginalizadas. Situaram-se historicamente nos confins da ilegalidade. Atualmente, são amiúde tidas como fraudes. Essas expressões, embora sejam obsoletas, são também utilizadas para evidenciar uma dicotomia fluida: há mobilidade religiosa e mesmo incorporação de outras dimensões de cura espiritual nesse país. Finalmente, a discussão esquadrinha os conflitos entre o espiritismo e especificamente a medicina. As representações e as práticas espíritas abarcam, por conseguinte, o domínio da saúde, cuja acepção tampouco é resoluta. Nesse domínio, a perquirição estende-se à noção de espiritualidade. Ao lado do saber médico convencional, há o conhecimento ordinário (Michel Maffesoli, 2007), segundo o qual tanto a saúde como a doença abrangem, além da dimensão bio-psico-social, a espiritual. Esse deslocamento de significados permeia questões não somente religiosas e científicas, como também políticas, éticas e jurídicas e questiona a definição mesma de cura. De acordo com o espiritismo, não é somente o corpo que adoece. O espírito também deve ser tratado. Nesse sentido, há diversos indicadores da eficácia de diagnósticos e tratamentos espirituais. Nesta tese, são apresentados relatos de cura de pacientes e narrativas de médiuns que frequentam instituições espíritas, além de entrevistas com médicos, membros de associações médico-espíritas, pesquisas na medicina a respeito das relações entre saúde e espiritualidade e um parecer emitido pelo Conselho Federal de Medicina do Brasil. O que dizem esses sujeitos a respeito do objeto de pesquisa apresentado? Como explicar os casos considerados como bemsucedidos? Trata-se de sugestão, efeito placebo, eficácia simbólica? Quais são as divergências e as convergências entre a saúde e o espiritismo? São esses itinerários que esta tese intenta percorrer. E é a partir desses trajetos que pretendemos abrir novas perspectivas de compreensão do outro e de nós mesmos. Abstract : This thesis aims to investigate the therapeutic itineraries of the third revelation, or spiritism, in France and Brazil. The investigation is achieved in urban contexts, that is to say Paris and the metropolitan region of Brasília. The itineraries of spiritism and health, in plural, translate the idea of a circulation of representations and practices, which are not tight and closed, but are socially, historically and culturally modified. Spiritism was born as a science and philosophy in France. It was settled as a religion in Brazil. As it will be presented, its knowledge and practices are in permanent (re)construction. This thesis goes through the disputes between spiritism and science in these both countries. In Brazil, having been consolidated as a religion, a label that guarantees constitutional protection, ?spiritism of white table? had to face ?low spiritism?. This issue is relevant to show that the spiritist practices analyzed were (and still are) marginalized. They have been historically situated in the limits of illegality. Nowadays, they are frequently considered as frauds. These expressions, although obsolete, are also applied to reveal a fluid dichotomy: there are religious mobility and even incorporation of other dimensions of spiritual healing in this country. Finally, the discussion details the conflicts between spiritism and specifically medicine. Spiritist representations and practices reach, therefore, the domain of health, which acception is not resolute either. In this domain, the research is extended to the notion of spirituality. Beside the conventional medical knowledge, there is the ordinary knowledge (Michel Maffesoli, 2007), according to which both health and disease comprehend, other than bio-psycho-social dimension, the spiritual dimension. This displacement of meanings permeates not only religious and scientific questions, but also political, ethical and juridical questions and interrogates the very definition of healing. According to spiritism, it is not only the body that gets sick. The spirit must also be treated. In this sense, there are several indicators of spiritual diagnostics and treatments? efficacy. In this thesis, there are reports of healing of patients and narratives of mediums that attend spiritist institutions as well as interviews with physicians, members of medical-spiritist associations, researches in medicine concerning the relationships between health and spirituality and an announcement issued by the Brazilian Medical Federal Council. What do these individuals and groups say about the subject of the present research? How to explain the successful cases? Is it suggestion, placebo effect, symbolic efficacy? What are the divergences and convergences between health and spiritism? These are the itineraries that this thesis attempts to cross. And it is from these paths that we intend to open new perspectives of comprehension of the other and of ourselves.